Que o portfólio da Hyundai está bem desatualizado no Brasil, é um fato. A marca – representada pelo grupo Caoa, e que já teve objetos de desejo, como o i30 e o hatch de três portas, Veloster – oferece apenas ix35, New Tucson e New Azera na gama atual. Entretanto, lançamentos recentes no portfólio internacional rendem uma ponta de esperança ao mercado brasileiro. Um deles é o novo Tucson, que acaba de chegar ao Uruguai.
O SUV desembarca em solo hermano com motor Smartstream 1.6 turbo de 180 cv (a 5.500 rpm) e 26,9 mkgf de torque. O câmbio tem dupla embreagem e sete marchas. Com visual moderno, destaque para o conjunto dianteiro que mescla grade, faróis de LEDs e luzes diurnas (DRLs). O Tucson está disponível em duas versões de acabamento: Safe e Limited.
Na lista de série, o utilitário – que acelera de zero a 100 km/h em 9 segundos e chega aos 180 km/h de velocidade – tem rodas de liga leve de 18″, ar-condicionado de duas zonas, central multimídia com tela de 8″, direção elétrica (com volante semelhante ao do novo Creta, mas sem a base reta) e espelhamento de smartphones via Android Auto e Apple CarPlay.
O preço do Tucson no Uruguai é que assusta. O SUV custa US$ 51.990. Ou seja, na conversão direta, não sai por menos de R$ 270 mil. Valor bastante salgado, afinal, o recém-lançado Jeep Commander, que tem 7 lugares, tração 4×4 e motor diesel, custa R$ 279.990 na versão de topo. E traz um verdadeiro arsenal de dispositivos eletrônicos.
Estratégia indefinida
No Brasil, o futuro do novo Tucson ainda é incerto. Por enquanto, a Caoa aposta na geração anterior, chamada de New Tucson (foto). Contudo, apesar do prefixo “New”, o responsável por movê-lo é velho conhecido motor Gamma 1.6 TGDI com 177 cv. Nas vendas, o SUV sempre se destacou, seja na segunda geração, chamada aqui de ix35, seja com o primeiro Tucson, que ficou em linha até o fim de 2018. Mesmo o New Tucson tinha saída, mas, em 2021, o modelo despencou e é apenas o 33º no ranking dos SUVs.
Com base nesse atraso em relação a outros mercados, o Jornal do Carro procurou algumas revendedoras Hyundai Caoa a fim de sondar os próximos passos da marca por aqui. Entretanto, para este ano, nada deve mudar. De acordo com uma das concessionárias consultadas, certamente algo mudará no ano que vem, mas nenhum detalhe vem sendo aberto aos funcionários. “Tem cliente procurando novos produtos e esse nosso portfólio defasado já compromete os números de vendas”, argumenta uma das fontes, que pediu anonimato.
Outras fontes consultadas alegam que tudo segue indefinido em relação à lançamentos, afinal, dois fatores criaram uma verdadeira barreira. Uma delas é a recente batalha judicial entre Caoa e Hyundai, onde venceu a importadora. Outra, é a morte de Carlos Alberto de Oliveira Andrade, fundador da Caoa, em agosto. Ou seja, ainda não se sabe quais decisões serão tomadas pela nova administração – que continua na família.
Os mais cotados
Além do novo Tucson, modelos já vendidos no País, como o SUV de 7 lugares Santa Fe e o sedã médio Elantra, retornarão ao País em versões renovadas. Além destes, a Caoa vai trazer o híbrido Ioniq, tal como antecipamos no Jornal do Carro. O modelo será o primeiro carro eletrificado da marca sul-coreana, e virá, portanto, via Caoa.
Há ainda a nova geração do Veloster, que pode voltar, desta vez com motor turbo, para fazer jus à imagem de “hot hatch”. A lista tem também o SUV pequeno Venue. Entretanto, este modelo faria mais sentido nas mãos da Hyundai Motor Brasil (HMB), que produz a linha HB20 (hatch e sedã) e o SUV Creta em Piracicaba (SP).
O Venue chegou a ser flagrado no Brasil, e cotado para ganhar produção local. Porém, agora, a tendência é que a HMB nacionalize o SUV de 7 lugares Alcazar, que deriva do recém-lançado Novo Creta. É um produto mais rentável para a operação brasileira da marca sul-coreana. E no meio de todos esses modelos, temos a inédita picape Santa Cruz.
Santa Cruz em 2022
De olho em um mercado cada vez mais ávido por SUVs e picapes, uma aposta que pode dar certo no Brasil é a comercialização da Santa Cruz. Com produção iniciada em junho nos EUA, a picape é uma possível rival da Fiat Toro. E pode até largar na frente de apostas como Ford Maverick, VW Tarok e Chevrolet Montana.
Entretanto, sua importação pagaria 35% de taxa. Sem contar o dólar nas alturas, que encareceria o modelo e não o tornaria competitivo. Ou seja, melhor é implementar a plataforma da picape na fábrica de Anápolis (GO). Lá, é montada a atual geração do Tucson. Se o novo SUV for produzido no local, a Santa Cruz também poderá ser, pois usam a mesma base.
Em relação à mecânica, são duas opções de motor, sempre a gasolina. O quatro-cilindros Smartstream 2.5 GDI (naturalmente aspirado) de 192 cv e 24,8 mkgf. E o 2.5 TGDI turbo de 278 cv e 42,7 mkgf de torque. Câmbio automático de oito marchas ou automatizado de dupla embreagem (oito marchas) completam os conjuntos disponíveis na dupla.
Porte de Toro
Com tamanho similar ao da Toro, a Santa Cruz tem 4,97 m de comprimento, 1,90 m de largura, 1,69 m de altura e 3 metros de entre eixos. Para levar carga, a caçamba pode estender o assoalho. A capacidade de reboque chega às 2,2 toneladas. E capacidade de carga, por fim, é de 1,5 toneladas na versão aspirada. Já a picape com turbo sobe para até 2,2 toneladas.
Na lista de itens, mais semelhanças com o SUV Tucson. Tem central multimídia de 10 polegadas, painel de instrumentos com opção digital (10″) e as tecnologias Android Auto, Apple Carplay e Hyundai BlueConnect. Nas versões topo de linha, recursos de segurança Hyundai SmartSense. Nesse sentido, há assistência de manutenção de faixa, aviso de atenção do motorista, alerta de ponto cego, câmera 360°, alertas de tráfego cruzado traseiro, frenagem automática e controle de cruzeiro.
Novo contrato
No mês passado, a Caoa obteve parecer favorável à manutenção do contrato com a Hyundai. Assim, a empresa garantiu o direito de importar e comercializar com exclusividade, bem como produzir veículos da marca no Brasil por mais dez anos. A decisão foi proferida por um tribunal arbitral em Frankfurt (Alemanha), indicado para mediar o contrato em caso de litígio. Assim, a decisão estabelece que a Caoa tem o direito de importar novos veículos da Hyundai ao Brasil e desenvolver tecnologias localmente.
A guerra entre Caoa e Hyundai começou em abril de 2018. O motivo da disputa foi o rompimento, pela Hyundai Motors, do contrato que garantia à empresa brasileira o direito de importar e fabricar veículos da sul-coreana por 20 anos. De acordo com o processo, a cláusula 2.02 do contrato previa renovação automática ao fim dos dez primeiros anos. O prazo venceu no dia 30 de abril de 2018. Porém, em 12 de abril, a Hyundai enviou carta à Caoa cancelando o acordo de forma unilateral.
À época, o advogado Sérgio Bermudes, representante da Caoa, disse que a Hyundai não havia apresentado nenhuma justificativa concreta para romper o contrato. E que propôs novo prazo de validade para o acordo, de dois anos. Porém, após liminar acatada pela Justiça – que garantiu a manutenção de todas as cláusulas do contrato original – a Caoa, então, mantém no Brasil a exclusividade para importar e comercializar veículos da Hyundai importados.