Um dos carros nacionais mais importantes da Volkswagen em quase duas décadas está saindo de linha. Após ficar de lado nos últimos anos, o Fox deixará de ser feito em breve pela marca alemã. O hatch nasceu em 2003 sobre a plataforma do Polo, porém com projeto brasileiro. A pretensão inicial era que o Fox ocupasse o lugar do Gol. Entretanto, o hatch de teto alto nunca conseguiu ser barato o suficiente. Embora a Volkswagen não confirme, o próximo passo é a aposentadoria do modelo em outubro.
Custando quase R$ 70 mil e oferecido em duas versões de acabamento, o Volkswagen Fox deixou de ser atraente. Isso tanto para a marca, quanto para os consumidores. Nem câmbio automático ele tem. Para se ter ideia, em agosto, o hatch foi o 35º modelo do ranking de automóveis, com 936 unidades, de acordo com números da Fenabrave. Ou seja, muito pouco para quem, até recentemente, respondia por bom volume.
Para a VW, muito mais vantajoso investir no T-Cross, afinal, os SUVs vêm fazendo sucesso no mercado brasileiro. Sem contar que o Fox já está desatualizado e fora de contexto dentro da gama – em quase 20 anos, não teve sequer mudança de geração. Hoje, as concessionárias vendem apenas as unidades em estoque. Algumas cores e pacotes, já acabaram, informaram as revendas consultadas pelo Jornal do Carro.
Virou até música
E se o Volkswagen Fox está indo embora, vale a pena relembrar alguns fatos. Afinal, o hatch produzido em São José dos Pinhais (PR) não conseguiu substituir o Gol, mas trouxe inovações para a marca, aumentou a família, arrancou dedos de usuários e foi até tema de música.
Quem não se lembra que, em 2009, a cantora Stefhany Absoluta fez uma paródia da música “A Thousand Miles” criando a canção “No Meu CrossFox” – em menção à configuração aventureira do modelo. Mesmo numa época em que o YouTube não era tão popular, o vídeo caiu nas graças do público e rendeu milhares de visualizações.
O carro do vídeo foi emprestado para o clipe. Entretanto, a cantora ganhou um CrossFox de verdade em um programa de TV.
Histórico do carro
Projetado no Brasil, o Fox foi feito sobre a plataforma do Polo de quarta geração (código PQ24). A ideia original era chamar-se Tupi. Entretanto, reza a lenda que a Volkswagen desistiu da denominação porque sua pronúncia, em inglês, soaria como “to pee”, que significa “urinar”. Nesse sentido, a montadora achou de bom tom a troca do nome.
O nome Fox, todavia, significa “raposa”, em inglês. Para a marca, a ideia de velocidade, agilidade e tamanho compacto característicos do animal caíram como uma luva para o hatch, que – apesar do visual sem graça e preço mais caro – queria substituir o Gol. Não deu certo.
No entanto, o Fox acabou caindo nas graças do público e vendeu bem. Um dos méritos se deve ao fato de que, muito antes dos SUVs, o modelo inovou com estrutura mais vertical. Isso, no entanto, caracterizou-o como um hatch “altinho”, quase um monovolume, que encarava bem o asfalto brasileiro, bem como tinha sensação de maior espaço a bordo.
Seu primeiro comercial de TV, portanto, destacava atributos como seus 17 porta-objetos, o controle do som no volante e a comodidade do ajuste de distância do banco traseiro.
Mutilações
Mas, o que era para ser uma inovação, virou um problemão para o Volkswagen Fox. Em 2008 – quando o modelo já tinha até mesmo a versão 4 portas e a configuração aventureira CrossFox, cheia de apliques plásticos, faróis auxiliares e até estepe pendurado na traseira – quase 10 pessoas tiveram o dedo decepado ao tentarem estender a área do porta-malas de maneira diferente do que mostrava o manual do proprietário.
Mesmo com o uso incorreto – utilizaram uma argola metálica ao invés da alça de tecido para afastar o banco de trás – as pessoas mutiladas venceram a VW pelo cansaço que, com isso, se viu obrigada a realizar um recall para correção do defeito. Este recall acabou ganhando a mídia. Foram mais de 500 mil unidades envolvidas.
Inovação
Ainda em 2008, o Fox – que já tinha o station wagon SpaceFox na família, que ficou por 12 anos em linha – ganhou sua primeira reestilização. O hatch recebeu leves mudanças de para-choques, paleta de cores e rearranjo do catálogo de versões.
Foi na linha 2010 que o Fox teve a sua primeira mudança visual mais relevante. Tentando imitar o Polo europeu, renovou a dianteira com faróis redesenhados e lanternas com novos grafismos. Detalhes internos, como painel de instrumentos modificado e melhora na qualidade dos materiais, também foram destaques. As opções mecânicas, entretanto, permaneceram as mesmas, com motores 1.0 e 1.6, ambos flexíveis.
Por falar nisso, o Fox BlueMotion foi o primeiro carro da Volkswagen a adotar o motor 1.0 12V com três cilindros. Em nome da economia, a configuração carregava o motor da família EA211. Só mais tarde seria usado em Up, Gol, Polo e Voyage.
Inclusive, a versão BlueMotion também reduziu o consumo do motor 1.6. Com as mesmas adoções de detalhes aerodinâmicos vistas no 1.0 – como novas grades frontal e inferior, e uso de pneus verdes (baixa resistência ao rolamento) – o Fox tinha média de consumo 12,7% mais baixa que no modelo 1.6 convencional. O consumo misto (cidade/estrada) era de 16,1 km/l com gasolina no tanque.
Últimos retoques visuais
O Volkswagen Fox atual tem a mesma carinha desde 2015. Foi nessa época que o hatch ganhou mais um facelift. Os faróis mudaram, a grade ficou mais fina e, na parte de trás, as lanternas, então, passaram a invadir a tampa do porta-malas.
Dividiu opiniões, mas o bom comportamento do novo motor 1.6 16V com 4 cilindros e até 120 cv reavivou as vendas. Pena que a solução era combinada ao câmbio automatizado I-Motion nas versões topo de linha. Na época, a VW ainda não tinha o câmbio automático de seis marchas disponível em seus compactos. Sorte que o 1.6 8V de 104 cv (família EA111) continuava atrelado ao câmbio manual. É dura até hoje.
Disponível na versões de acabamento Connect e Xtreme, o Fox fez história no País. Estima-se que a produção tenha rondado as 2 milhões de unidades. Entretanto, o número de vendas totais do modelo – de 2003 para cá – não foi informado pela fabricante até o fechamento desta reportagem, conforme solicitado pelo Jornal do Carro.
O fato de os SUVs serem a bola da vez no Brasil torna a manutenção do Fox em linha algo insustentável. Pois o consumidor já não o vê com os mesmos olhos. Hoje, o cliente da marca migrou sua preferência ao T-Cross e ao Nivus, que, curiosamente, usam a base do Polo atual. Os SUVs também trazem os motores 1.0 turbo ou 1.4 turbo, que são mais modernos, ambos com câmbio automático.
Para completar, a marca vai apostar em outros modelos para o Brasil e a região nos próximos anos. Entre eles, o Polo Track e o novo Gol, previsto para chegar em 2023 com estilo de SUV.