Embora no Brasil a representatividade ainda seja quase nula, com menos de 2% do mercado, os carros elétricos estão crescendo rapidamente mundo afora – sobretudo nos países mais ricos. Em 2021, os veículos alimentados por baterias (BEVs) dobraram de tamanho, com amplo domínio da Tesla, que tem 21% das vendas globais.
Mas essa supremacia logo deve acabar, pois as marcas tradicionais, embora ainda com maioria dos veículos a combustão, estão chegando em massa ao segmento. Porém, com preços médios que variam de R$ 250 mil a R$ 400 mil, os carros elétricos, por enquanto, são para poucos. Atualmente, são sonhos possíveis para clientes de marcas de luxo, como BMW e Porsche.
Outra marca que avança no segmento é a Volvo. O XC40 Recharge é o elétrico mais emplacado de 2022, de acordo com a lista da Fenabrave, associação dos concessionários do País. Em números, o SUV movido a eletricidade já soma 308 unidades nos dois primeiros meses do ano. Desde o fim de 2021, o utilitário vem apenas em versão elétrica.
Logo atrás, um produto da Stellantis faz sucesso. O simpático Fiat 500e vendeu 88 unidades só em fevereiro (só perdeu para o XC40, com 89) e, no acumulado de 2022, abocanhou 107 emplacamentos. Na sequência, vêm outros modelos mais acessíveis, como Nissan Leaf, Renault Zoe e JAC E-JS1. Respectivamente, venderam 90, 78 e 56 unidades no acumulado.
Outro ponto a ressaltar é que, pelo preço (a partir de R$ 615.000), o Porsche Taycan surpreende. só em fevereiro, vendeu 22 unidades. Foram, portanto, 43 exemplares nos dois primeiros meses do ano. Isso sem contar os modelos que estão chegando. A Volvo, por exemplo, acaba de lançar o C40 Recharge por R$ 419.950, e a BMW aceita reservas desde janeiro para o SUV iX.
Valores e outros empecilhos
Na visão da especialista do mercado automotivo, Leticia Costa, sócia da Prada Assessoria, “de fato, a venda de carros elétricos no Brasil deve, nos primeiros momentos, voltar-se ao consumidor de alta renda, uma vez que o preço desses veículos é bem superior àqueles com motores a combustão”, explica a consultora.
De acordo com a Letícia Costa, “a popularização dos veículos elétricos no Brasil é questionável. Afinal, temos outras limitações para além do preço, como infraestrutura de recarga, disponibilidade de energia, etc. Creio que a popularização virá com veículos eletrificados (híbridos, fuel cell, entre outros), pois assim elimina-se a barreira da infraestrutura de recarga, bem como se soluciona o problema de potencial falta de energia”, aponta.
Leticia acredita que a popularização dos carros elétricos dependerá da evolução dos preços das baterias, assim como da localização de sua produção, uma vez que o componente representa cerca de 30% do custo desses modelos, em média.
Desse modo, a tendência é que as vendas só ganhem volume nos segmentos mais populares quando houver tecnologias que permitam preços mais acessíveis. Ou seja, quando o elétrico estiver na faixa de R$ 100 mil. Por ora, a promessa mais próxima a essa realidade é o Renault Kwid elétrico. Tem ainda o EQ1, da Caoa Chery, que promete vir por R$ 150 mil. Ele tem duas portas, capacidade para quatro adultos e motor de até 75 cv. A autonomia fica em 408 km, conforme ciclo asiático NEDC.
Lá fora
Com realidade diferente, os EUA estão avançando bastante em termos de vendas de veículos elétricos. Para exemplificar, basta olhar os números do Model S. Há quase dez anos, o modelo já amedrontava exemplares da trinca alemã e chegou a deixar Audi A8, BMW Série 7 e Mercedes-Benz Classe S para trás no mercado norte-americano.
E quem achou que a empresa do bilionário Elon Musk ia perder fôlego ao longo do tempo, enganou-se. No mês passado, a Tesla fechou como a 10ª montadora que mais vendeu carros nos EUA. De acordo com o site Marklines, ela obteve 4% de participação de mercado geral com suas mais de 42 mil unidades emplacadas por lá. O relatório aponta que as vendas da fabricante aumentaram 98,3% – quase o dobro de fevereiro de 2021. Nesse sentido, ficou à frente de tradicionais marcas de luxo como Volvo, Land Rover, Porsche, Jaguar e o trio de luxo alemão.
“Top 10”: vendas de elétricos nos EUA em fevereiro:
1) General Motors – 161.718 (15,3%)
2) Toyota – 160.645 (15,2%)
3) Stellantis – 137.172 (13%)
4) Ford – 128.229 (12,1%)
5) Honda – 84.394 (8%)
6) Nissan – 61.674 (5,8%)
7) Hyundai – 55.906 (5,3%)
8) Kia – 49.182 (4,6%)
9) Subaru – 44.866 (4,2%)
10) Tesla – 42.742 (4%)
Lançamentos para peitar a Tesla
Mesmo com um momento complicado para o setor automotivo, com escassez de semicondutores que afeta a indústria em geral, a Tesla não tem se intimidado. Recentemente, a empresa bateu o valor de mercado de US$ 1 trilhão com a valorização de suas ações.
Portanto, não é a toa que as demais montadoras resolveram seguir a mesma cartilha, pois a meta é se manter no patamar de crescimento da Tesla. Por exemplo, não é mera coincidência que as montadoras alemãs tenham voltado as atenções aos EUA, onde passaram a vender concorrentes diretos da marca de Musk – que colocou até videogame a bordo de seu Model X para atrair a clientela. Entretanto, acabou gerando polêmica.
Fortes exemplos de concorrência são BMW iX, Mercedes-Benz EQA e companhia. Mas tem gente de outras nacionalidades também de olho numa fatia desse bolo. É o caso, por exemplo, da Stellantis. Na última semana, o presidente, Carlos Tavares, afirmou que o grupo “vai alcançar a Tesla nos próximos anos”. O executivo, assim, defendeu investimento extra em infraestrutura de recarregamento nos EUA e Europa.
Como quarta maior montadora de veículos do mundo, a Stellantis apresentou seu plano de negócios. O objetivo consiste, portanto, em dobrar a receita. Serão investidos 300 bilhões de euros até 2030 em carros elétricos e híbridos.