Com toda sua expertise no mercado de picapes, liderando as categorias de compactas com a Strada e de intermediárias com a Toro, a Fiat resolveu se aventurar em um segmento bem mais arriscado. Assim, chega ao mercado a Titano, primeira picape média na história da marca. Mas será que esses anos de sucesso em categorias inferiores serão suficientes para que a montadora conquiste também o protagonismo entre as médias? Difícil. Vamos por partes.
Em primeiro lugar, não dá para negar as qualidades de suas caminhonetes de menor porte. Contudo, há de se convir que ambas se encontram em posições cômodas nos segmentos nos quais estão inseridas. A Strada, por exemplo, tem basicamente como rival direta apenas a Volkswagen Saveiro, um projeto mais antigo, mas que ainda tem bons números de vendas. Por isso mesmo não saiu de linha junto com o restante da “família” Gol, da qual faz parte. Outros consideram a Chevrolet Montana também concorrente do modelo da Fiat, já que ela é menor que as intermediárias, mas maior que as compactas. Esse limbo a torna compatível com as duas opções.
Já entre as intermediárias, a Toro rouba a cena. Mesmo tendo perdido um pouco de espaço para a Ram Rampage (que também é da Stellantis, então não chega a ser um incômodo maior), ela continua líder de sua categoria. Renault Oroch e Ford Maverick não têm representatividade suficiente para ameaçar sua posição. Resta saber agora como a Titano vai se encaixar no segmento mais tradicional do mercado brasileiro, com mais representantes e com uma gama de ofertas tão diversa.
Titano deve brigar pela quarta posição
Nesse início, pelo menos, a Fiat não vai buscar a liderança entre as médias. Mesmo porque a capacidade da fábrica de Nordex, no Uruguai – onde o modelo é feito – tem capacidade de entregar pouco mais de 1.000 unidades ao mês para o mercado brasileiro. Assim, a novata nem terá volume para brigar no top 3 do ranking do segmento, ocupado por Toyota Hilux, Chevrolet S10 e Ford Ranger. Ou seja, a Titano vai disputar o quarto lugar com Mitsubishi L200 e Nissan Frontier, que se revezam na quarta posição justamente com emplacamentos entre 800 e 1.000 veículos.
A Fiat diz, contudo, que poderá aumentar o volume de importação conforme a demanda. Mas a cautela em um primeiro momento mostra que a montadora sabe que o produto que tem nas mãos não tem o atributos necessários para ameaçar as concorrentes mais modernas e equipadas. Especialmente nas versões de topo, que são mais caras, mas trazem uma sofisticação que a Titano não tem. A nova geração da Ranger, por exemplo, que virou referência na categoria, tem versões de até R$ 350 mil, mas com motor V6 e tecnologias de entretenimento, conforto e segurança que deixam as rivais para trás.
Já a Titano é uma picape nova, mas que já existia com outro logotipo. Em vez de desenvolver um produto do zero, a Fiat usou uma receita pronta: pegou a Peugeot Landtrek, uma vez que a marca francesa também faz parte da Stellantis, e apenas fez ajustes para transformá-la na Titano. A Landtrek, por sua vez, foi lançada em 2020 com uma parceria entre a Peugeot e a chinesa Changan. Mas pelo nível de refinamento, parece que o projeto é ainda mais antigo.
Versões, equipamentos e preços
A Titano tem três versões disponíveis: Endurance, por R$ 219.990 (o que a torna uma das picapes médias mais baratas do mercado), Volcano, de R$ 239.990, e Ranch, de R$ 259.990. Todas trazem o mesmo motor 2.2 turbodiesel de 180 cv, que é exclusivo para a picape – ou seja, não equipa nenhum outro veículo da Stellantis. No modelo de entrada Endurance, mais voltado ao trabalho, o câmbio é manual de seis marchas. Dessa forma, o torque fica em 37,7 mkgf. Já nas demais configurações, com câmbio automático de seis marchas, são 40,8 mkgf.
As três opções recebem ainda sistema de tração integral com reduzida. Além disso, outros equipamentos também são de série em todas elas, como bloqueio do diferencial traseiro, assistente de reboque, hill hold control (assistente de partida em rampa) e hill descent control (controle automático de descida).
Com esse trem de força, a Titano acelera de 0 a 100 km/h em 12,5 segundos (14,7 segundos na Endurance), mas todas atingem a marca de 175 km/h de velocidade máxima. O consumo, entretanto, varia entre as versões. De acordo com o Inmetro, são 9,6 km/l (cidade e estrada) na Endurance; 8,6 km/l (cidade) e 9,3 km/l (estrada) na Volcano e 8,5 km/l (cidade) e 9,2 km/l (estrada) na Ranch.
São 5,33 metros de comprimento, 1,96 m de largura, 1,86 m de altura e 3,18 m de entre-eixos. O peso varia conforme a versão: 2.039 kg (Endurance), 2.097 kg (Volcano) e 2.150 kg (Ranch). A altura em relação ao solo é de 23,5 cm e a capacidade de imersão chega a 60 cm. Já a caçamba de 1.109 litros leva 1.020 kg de carga. Por fim, a capacidade de reboque é de 3,5 toneladas.
Impressões ao dirigir
A primeira coisa que chama a atenção ao dar a partida na Titano é como ela parece com picapes de 10 ou 15 anos atrás. Os motores a diesel de hoje são mais refinados e já reduziram bem essa sensação de que você está a bordo de uma picape a diesel, com aquela vibração característica e um barulho áspero que invade a cabine. E é exatamente essa a impressão que o modelo da Fiat passa. Daquelas caminhonetes bem raiz, brutas e resistentes. Ao mesmo tempo que isso pode ser um ponto positivo, também pode ser um ponto negativo. Tudo depende do uso que o proprietário fará dela.
Isso porque a Titano evoca uma personalidade de picape de fazenda, que roda na terra sem frescura e atropela buracos sem sofrer. É firme mesmo em trechos mais arenosos, quando o pneu perde a aderência. Sua suspensão é ajustada para isso, para absorver bem os impactos que uma valeta profunda pode causar em um sistema mais rígido. Ou seja, ela é mais mole justamente para se dar bem no off-road.
Mas, por outro lado, essa configuração também a deixa mais “boba” na estrada. Apesar de ter um motor forte, que não vai te deixar na mão em acelerações mais bruscas ou em uma ultrapassagem, por exemplo (especialmente no modo Sport do câmbio), a caminhonete pula bastante em trechos até com asfalto liso. É uma característica típica de picapes quando trafegam vazias, já que a suspensão precisa suportar e oferecer uma dirigibilidade boa quando está carregada – e a Titano leva mais de uma tonelada na caçamba. Mas mesmo assim, o efeito pula-pula é mais acentuado nela que em outras concorrentes.
Conclusão
Se pensarmos que as picapes são realmente veículos para trabalho, a Titano se encaixa bem nessa categoria. O problema é que cada vez mais entusiastas desse segmento usam suas caminhonetes na cidade. Nesse caso, a novata não tem as armas de boa parte de suas rivais para brigar pelo topo e deve concentrar suas vendas em frotistas e produtores rurais. Essas áreas, com os incentivos e descontos que a Fiat é capaz de oferecer, são as que deverão impulsionar suas vendas. Porque se você gosta das picapes da marca e pensava na Titano como um upgrade, mas roda a maior parte do tempo na cidade, o melhor negócio é ficar com a Toro.
Prós
- Robustez na terra e boa capacidade de carga
Contras
- Vibração e barulho do motor incomodam quem vai na cabine; suspensão tem ajuste mole para rodar no asfalto
Ficha técnica
Fiat Titano Ranch
- Preço: R$ 259.990
- Motor: 2.2, turbodiesel, 4 cilindros em linha, 2.179 cm3
- Potência: 180 cv
- Torque: 40,8 mkgf
- Câmbio: Automático, 6 marchas; tração 4×4 com reduzida
- Peso: 2.150 kg
- Comprimento: 5,33 m
- Altura: 1,86 m
- Largura: 1,96 m
- Entre-eixos: 3,18 m
- Caçamba: 1.109 litros (1.020 kg)
- Consumo cidade/estrada: 8,5 km/l/9,2 km/l
- Suspensão: Independente (D); eixo rígido (T)
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