A esposa do empresário José Antônio Sangirardi já sabe: duas vezes por semana, o marido vai se encontrar com a “outra”. E volta para casa relaxado e feliz. Neste caso, a “outra” é uma picape F100 fabricada em 1964.
A paixão pelo modelo vem desde a infância, passada na fazenda que o avô tinha em Avaré, no interior do Estado. “Meu tio comprou uma F100 vermelha e branca e eu fiquei admirado. Eu ouvia o ronco daquele motor quando a picape andava pelas estradas de terra e achava espetacular”, lembra.
Tempos depois, já adulto, o empresário rodava pelo interior do Paraná e encontrou aquela que viria a ser sua picape, que recebeu o apelido de Preta por causa da cor da carroceria, estacionada sob um pé de manga, em um sítio. Pediu para vê-la, mas a venda só se consumou após alguns meses, por iniciativa da esposa do proprietário. Sangirardi pagou R$ 3.800 pelo veículo e providenciou seu transporte em um caminhão cegonha até a capital paulista, onde teve início um lento processo de restauro que se estendeu por três anos.
“A carroceria e o assoalho estavam podres. Fizemos a recuperação de cada peça separadamente: primeiro um para-lama, depois uma porta. Se você desmonta um carro antigo desses, não consegue remontar depois”, explica o dono.
Concluída a lataria, a parte mecânica foi revigorada com um motor de Galaxie, um novo carburador e um radiador de colmeias maiores, solução encontrada para contornar uma conhecida falha do modelo. “As picapes Ford da época ‘ferviam’ com facilidade, enquanto as da Chevrolet atolavam. Nos anos 70, dizia-se que os donos de Chevrolet traziam água para os de Ford, e os de Ford levavam corda para os de Chevrolet.”
De acordo com ele, por causa do comportamento dinâmico peculiar da picape, dirigi-la não é para qualquer um. “É preciso ter certo conhecimento sobre antigos: noção de velocidade, de curvas, de frenagem. Como ela é muito mais pesada na frente, sai de traseira mesmo”, explica o empresário.
Com a experiência adquirida, Sangirardi chegou até a socorrer um amigo, proprietário de outro exemplar do modelo.
“Fomos fazer um evento em Jacareí (SP) e a barra de direção da picape dele entortou numa curva. Entrei debaixo do carro e resolvi o problema ali mesmo. Nem precisamos chamar um guincho”, gaba-se.
A vida social de Preta é intensa; vai de eventos de antigos a festas de peão. Sangirardi roda sem pressa, curtindo o caminho e o inevitável assédio de quem passa. “Fico na faixa da direita e deixo o povo brincar. Os caminhoneiros buzinam, a criançada fica louca. Abro a porta para elas e mostro meu chapéu australiano pendurado na cabine. Os pais tiram fotos e ficam super agradecidos”, conta.