Não é nada fácil encontrar atualmente um Del Rey em perfeito estado. Mas a paixão do consultor de beleza Paul Assumpção pelo Ford foi recompensada quando ele encontrou um sedã da versão Ouro, de 1984, impecável. Da configuração de topo à época, o carro é completo: tem quatro portas, ar-condicionado e câmbio automático.
“Eu cuidava dos carros da família, gostava de lavá-los e dormir dentro deles. Mas o que me marcou mesmo foi o Del Rey do meu avô, que também tinha câmbio automático”, afirma Assumpção. “Lembro que toda vez que subíamos a rampa da garagem, o motor a álcool morria e o portão vinha para cima.”
Quando o Ford foi vendido a um amigo da família, o garoto ficou inconformado. Depois de muita insistência, conseguiu reencontrar o carro e pediu ao avô que o comprasse de volta, mas o novo dono não topou o negócio. Restou a Assumpção acompanhar de longe o três-volumes, até ele ser revendido e sumir de vista para sempre.
A essa altura, Assumpção já estava com 18 anos e podia comprar seu próprio Del Rey. Como não encontrou um modelo do qual gostasse, optou por um Civic 1995. Meses depois, surgiu um Ford igual ao que ele desejava, mas, comprometido com o financiamento do Honda, ele não pôde fechar negócio.
Os anos passaram e Assumpção embarcou para uma longa temporada em Londres. Foi durante a estada na capital britânica que ele viu o anúncio do sedã desta reportagem.
“O carro estava uma maravilha! De único dono, havia rodado apenas 70 mil km. Fiquei angustiado por estar longe, mas percebi que o anúncio estava sempre no ar”, conta o consultor, que fechou a compra ao voltar ao País. “Quando abri a porta e senti aquele cheiro de revista antiga, típico dos Ford da época, pensei: tem de ser meu!”
Habilidoso. A obsessão de Assumpção pelo Del Rey não surpreende mais quem o conhece. O rapaz está acostumado a reparar os carros sozinho, um dom que desenvolveu ainda pequeno, quando desmontava equipamentos eletrônicos.
“Minha diversão era ir a uma oficina de eletrodomésticos em Campos do Jordão (no interior de São Paulo). Eu pegava os aparelhos sem conserto, levava para casa e consertava tudo”, diz.
“Todos pensavam que eu iria ser engenheiro, foi um choque para a família quando eu disse que seria maquiador. Meus amigos acham o máximo eu ter essa profissão e mexer em carro. Vivo com a mão suja de graxa.”
Por sorte, o Del Rey deu pouco trabalho, pois a lataria e o interior estavam em bom estado. O consultor só teve de trocar algumas peças envelhecidas para curtir a aquisição. E põe curtição nisso: para aplacar a fissura acumulada por tantos anos, ele já rodou 10 mil km com o sedã.
“Na cidade, o motor se vira bem. As marchas são curtas e há bom torque em baixa rotação. Como as trocas são comandadas por módulo eletrônico, a transmissão é mais rápida que a de um Toyota Corolla. Se precisar fazer uma retomada mais agressiva, é só acelerar fundo que ele reage imediatamente”, afirma Assumpção.
Por outro lado, as limitações de um projeto tão antigo são evidentes. “Dá um certo medo de correr com ele, pois a frente balança quando o vento bate forte. Com quatro ocupantes, ele fica fraco e pesado. Como não há direção hidráulica, fazer manobras é um esforço físico digno de academia”, brinca.
Zeloso, o consultor só estaciona o Ford em garagens fechadas e procura manter um estoque de peças sobressalentes. Isso porque, segundo ele, nas versões com ar-condicionado e câmbio automático, como a sua, itens como radiador e cabo de velocímetro são diferentes dos usados nas demais.
As aparições em eventos são comedidas, por uma razão curiosa. “Sinto que há um ‘olho gordo’ forte em cima do carro. Ele só tem problemas mecânicos depois que eu o exponho”, diz Assumpção, que gostaria de ter outros exemplares do Ford com câmbio automático. “Outro dia apareceu uma perua Scala toda surrada. Só não levei pois não tinha onde guardá-la.”