Primeira Classe

Mulheres ao volante estão mandando melhor que os homens

“Mulher não sabe dirigir”. A frase é machista, mas não exclusiva dos homens. Muitas de nós ainda pensam assim. É... leia mais

Rafaela Borges

18 de jul, 2014 · 9 minutos de leitura.

Mulheres ao volante estão mandando melhor que os homens

(Fotos: Reprodução)

“Mulher não sabe dirigir”. A frase é machista, mas não exclusiva dos homens. Muitas de nós ainda pensam assim. É herança de uma arcaica cultura, brasileira e também universal, de que carro é coisa de homem. Assim como futebol.

Pois futebol não é coisa de homem. A Copa que o diga. As torcedoras invadiram os estádios e eu cansei de ouvir, aqui na redação, em reuniões com amigos, em mesas de bares, mulheres dando palpites muito pertinentes, sensatos e cheios de embasamento técnico sobre as partidas do Mundial e o resultado delas. Hoje, as mulheres até praticam futebol profissionalmente, e há grandes torneios femininos.


Com carro é a mesma coisa. Existe a crença de que mulher não entende de carro. Pois, colega, eu vou te dizer a verdade. Você entende sim! Tanto quanto seu marido, namorado, amigo, colega de trabalho da empresa. Ou vocês acham que eles sabem quais são todos os componentes que formam o conjunto da suspensão, e como eles interferem, um a um, no comportamento de um veículo?

Não sabem coisa nenhuma. O conhecimento deles é tão vasto quanto o seu, minha amiga. Poucos são engenheiros mecânicos. A minoria, pilotos. E, fora desse grupo, o conhecimento que se obtém sobre carros é por meio de leitura de publicações especializadas, ou batendo papo com o mecânico. Por isso, nós temos tanta capacidade para entender de carros quanto eles. Se assim desejarmos.

E se podemos entender de carros, podemos também dirigir bem. Podemos não; dirigimos bem. Melhor que eles. Heresia, calúnia? Não! Pura verdade. As seguradoras atestam isso. Não existe empresa em que, em idênticas condições, cobre mais caro pelo seguro feminino que pelo masculino.


E por quê? Porque nós dirigimos melhor. Porque nos envolvemos menos em acidentes do que eles. A maioria dos homens vai usar três argumentos para justificar que nossa boa reputação com as seguradoras não é fruto de nosso talento maior ao volante. Mas todas as justificativas são apenas ilusões para fazer com que eles se sintam melhores do que nós… e melhores consigo mesmos.

1 – Há mais motoristas do gênero masculino do que do feminino

Não é verdade. Na maioria dos segmentos mais comuns de veículos, como hatches, sedãs, peruas e até utilitários, de 40% a 60% das compradoras são mulheres.


Um colega, especialista em mercado, me informou sobre um dado interessante. Há mais carros registrados no nome de homens. Mas um grande porcentual deles é usado pelas mulheres. Eles compram os veículos e os registram, mas eles são guiados por suas esposas, filhas, mães…

É só olhar nas ruas e comprovar: nós as estamos dominando. E, melhor ainda, também estamos cada vez mais presentes, ao volante de nossos veículos, nas rodovias. Estamos perdendo o medo de guiar e a dependência que tínhamos deles para nos levar de um lugar ao outro, de uma cidade a outra. Estamos confiando mais em nós mesmas e acreditando que, sim, nós não precisamos dos homens para muitas coisas. Nem mesmo para dirigir nossos carros.

Um dado de Detran-DF, de 2012, mostra que, no Distrito Federal, 40% das motoristas são mulheres. Ainda assim, elas estão ao volante em apenas 10% dos acidentes fatais registrados.


2 – As mulheres são medrosas

Não, nós não somos. Somos cautelosas. E é justamente por isso que somos melhores motoristas.

Dirigir não é acelerar tudo na saída do farol para mostrar ao cara ao lado que seu carro anda mais. Dirigir não é sair cortando todo mundo no trânsito, para provar o quanto seus dotes como pseudo-piloto são bons. Dirigir é não precisar provar nada para ninguém. É ter a consciência de que a rua não é sua e que é preciso respeitar o espaço dos outros.


Nós, mulheres, sabemos manobrar um carro, encaixá-lo na vaga do shopping, fazer baliza na rua. Não deixamos o veículo morrer na hora de sair e trocamos a marcha no momento adequado. Temos reflexos tão humanos quanto os deles para reagir a uma situação de emergência ao volante. E uma consciência muito maior que a deles para não nos colocarmos, negligentemente, nessas situações de emergência.

Porque, meninas, lugar de quem quer mostrar seus dotes de piloto não é na rua, cometendo infração de trânsito e colocando a vida dos outros em risco. É na pista.

Danica Patrick celebra, no pódio, vitória na etapa do Japão da Indy, em 2008. Helio Castroneves teve de se contentar com o pequeno troféu de segundo colocado

3 – Se as mulheres fossem melhores, teriam destaque no automobilismo


Ao contrário do que muitos acreditam, automobilismo é, sim, um esporte. Um esporte que exige força física. O condicionamento físico de um piloto de Fórmula 1, hoje, precisa ser tão bom quanto o de um jogador de tênis.

Dirigir um carro de Fórmula 1, duro, sem recursos eletrônicos, pelo período de duas horas, é missão para um atleta de elite. Então como nós, que temos força física menor, podemos competir com eles? Por acaso existe competição entre homem e mulher no atletismo, no vôlei, no futebol?

Ainda assim, a norte-americana Danica Patrick, maior nome feminino do automobilismo, já deixou muito homem para trás. Já venceu corrida de Fórmula Indy e subiu ao pódio na tradicional 500 Milhas de Indianápolis.


Parabéns à Danica. Ainda assim, já é hora de as entidades que regem o automobilismo criarem categorias estritamente femininas. Assim, haveria mais mulheres dispostas a mostrar, na pista, que não temos medo. Temos consciência.

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