Em 1935 era apresentado, em Londres, o SS Jaguar 2.5 Sallon, primeiro produto da marca de veículos criada por sir William Lyons. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, um suposto acordo envolvendo petroleiras e fabricantes de veículos dos EUA teria decretado o fim dos carros elétricos em detrimento dos modelos com motores a gasolina. Passados mais de 80 anos, o lançamento do Jaguar I-Pace, SUV que chegará ao Brasil no segundo semestre deste ano, enfim une a história da companhia britânica à propulsão elétrica.
Trata-se de uma mudança de paradigmas para a marca que ficou conhecida por seus esportivos e modelos de luxo. O I-Pace estreará no País cerca de dois anos após o F-Pace, primeiro SUV da história da Jaguar.
Revelado como um protótipo durante o Salão de Los Angeles, nos EUA, em novembro de 2016, a versão final é feita em Graz, na Áustria, em parceria com a Magna-Steyr, e foi um dos destaques do estande da Jaguar no Salão de Genebra (Suíça), em março deste ano.
Com dois motores a eletricidade, que juntos geram o equivalente a 400 cv de potência e 71 mkgf de torque, o I-Pace acelera de 0 a 100 km em 4,5 segundos, chega a 200 km/h e tem autonomia para rodar 480 km, de acordo com dados da fabricante. Os preços não foram revelados, mas devem partir de cerca de R$ 350 mil.
Foi possível conferir o que esse conjunto é capaz no Autódromo do Algarve e nas estradas sinuosas das montanhas dessa região de Portugal. Avaliamos a versão de entrada e a First Edition, que será oferecida apenas no período de lançamento. A diferença entre elas é o nível de acabamento e equipamentos.
Embora a Jaguar o chame de SUV, o novo carro está mais para um crossover (mistura de vários tipos de veículos). Para provar sua teoria, a marca criou um circuito no qual dirigimos o I-Pace pelo leito de um riacho e em estradinha de terra muito íngreme.
Tanto para subir quanto para descer, bastou subir a suspensão (por meio de teclas no console central), ativar um sistema na tela digital e controlar o volante. O carro fez o resto sozinho.
VISUAL INCONFUNDÍVEL
Visto de lado, o I-Pace lembra um “cupê que tomou fermento”. Na dianteira, a grade traz a assinatura da família de SUVs da marca, que inclui o F-Pace e E-Pace. A grelha tem aletas ativas, que abrem para refrigerar as baterias e otimizar o funcionamento do ar-condicionado ou fecham para priorizar a aerodinâmica,.
Nas laterais, sobressaem os para-lamas, que dão um aspecto “musculoso” ao carro, a silhueta que remete a clássicos modelos da fabricante e as maçanetas embutidas, uma espécie de marca registrada da Jaguar. As rodas de liga leve têm 20 polegadas na versão de entrada e 22” na First Edition, calçadas, respectivamente, com pneus 245/50 R20 e 255/40 R22.
Na traseira, bem curta, o desenho das lanternas é uma clara evolução do conjunto utilizado nos “irmãos” E e F Pace. Um difusor sobre a tampa do porta-malas direciona o ar para o vigia e, além de criar um aspecto mais esportivo, elimina a necessidade de limpador para o vidro.
O novo Jaguar tem 4,68 metros de comprimento e ótimos 2,99 m de distância entre os eixos e 656 litros de capacidade no porta-malas. Como comparação, no Audi Q5 são, respectivamente, 4,66 m, 2,82 m e 550 litros. Na dianteira há um segundo bagageiro, com 27 litros.
Esse números se traduzem em amplo espaço interno. Como as baterias ficam no assoalho, os engenheiros reduziram o centro de gravidade. Ao contrário do padrão nos SUVs, a posição de dirigir é baixa e bem parecida com a de sedãs e hatches.
O lado negativo é que não há nichos sob os bancos dianteiros para os pés dos passageiros de trás. Eles viajam com as pernas muito flexionadas. Em percursos longos, certamente o desconforto será grande.
Um eventual quinto ocupante sofrerá ainda mais, por causa do ressalto do piso sobre o motor traseiro. Como há um motor para cada eixo, o I-Pace tem tração nas quatro rodas.
BEM EQUIPADO
Os dois bancos da frente têm ajustes elétricos. No centro do painel há uma grande tela sensível ao toque que controla várias funções do carro. Os modos de condução e o nível de recuperação de energia nas desacelerações.
O recurso também funciona como freio-motor. São duas opções de ajuste: máxima e mínima. Na primeira, o sistema passa a funcionar como uma espécie de dínamo, gerando eletricidade que será enviada à bateria.
A desaceleração é menos intensa que a do Chevrolet Bolt, por exemplo, mas suficiente para praticamente eliminar a necessidade do uso do freio no trânsito urbano.
Pela tela principal dá par acessar, entre outros, o navegador GPS e o sistema de entretenimento que é compatível com Android Auto e Apple CarPlay. Algumas dessas opções são replicadas por botões do volante.
A direção tem respostas muito diretas e ótima assistência. O “peso” do volante, que tem ajuste manual de altura e profundidade, varia automaticamente conforme o tipo de condução.
Há uma segunda tela (também sensível ao toque), abaixo da principal, e dois botões giratórios. Esse sistema inclui os ajustes do ar-condicionado, refrigeração e aquecimento dos bancos.
INTELIGENTE
O I-Pace inaugura na linha Jaguar a conexão com dispositivos de inteligência artificial, como o Amazon Alexia. O sistema vai “aprendendo” os gostos do usuário e permite a interação, por exemplo, com casas inteligentes – dá para ligar as luzes da garagem e o ar-condicionado da sala de dentro do carro, para citar duas opções.
Mesmo com carroceria feita quase 100% de alumínio, o I-Pace pesa 2.200 quilos (o Q3 tem 1,720 kg). Isso é “culpa” da bateria de íons de lítio, que fica no assoalho, tem 432 células e 90 kW.
A suspensão tem triângulos duplos na dianteira e é Multilink atrás. Os carros avaliados estavam com o sistema a ar (opcional) que, além de garantir um rodar macio. Entre as virtudes, esse extra reduz a distância do solo automaticamente em 1 cm para diminuir a resistência ao ar.
Nas serras portuguesas o I-Pace mostrou excelente desempenho em subidas. Também há rolagem nula em curvas contornadas em alta velocidade. No autódromo o carro também fez bonito: ao pisar firme no acelerador as costas grudaram no banco por causa da entega de torque, feita instantaneamente.
Segundo informações da Jaguar, bastam 40 minutos para “encher” 80% da bateira por meio do em carregador rápido de corrente contínua com 100 kW. No Brasil, a marca deverá oferecer, opcionalmente, um dispositivo doméstico que garante o mesmo resultado após dez horas na tomada. Para instalar o dispositivo o cliente terá de recorrer à concessionária de energia elétrica local.
Na Europa, a Jaguar oferece oito anos de garantia para as baterias do I-Pace. Isso desde que as revisões sejam feitas a cada 34 mil quilômetros ou dois anos.
Prós
Desempenho e estabilidade
Com 400 cv e torque instantâneo, o carro acelera como um esportivo. A tração 4×4 e a excelente distribuição de peso o deixam firme mesmo em curvas feitas em alta velocidade.
Contra
Espaço atrás
Por causa das baterias, não há nicho para os pés dos ocupantes, que viajam com as pernas flexionadas. Em trechos longos, o desconforto é certo.
FICHA TÉCNICA
JAGUAR I-PACE FIRST EDITION EV400
Preço (estimado): R$ 350 mil
Motor: dois elétricos (um em cada eixo)
Bateria: íons de lítio de 432 células e 90 KW
Potência total: 400 cv
Torque: 70 mkgf
Tração: integral nas 4 rodas
Aceleração de 0 a 100 km/h: 4,8 segundos
Velocidade máxima: 200 km/h
Autonomia: 480 km
Comprimento: 4,68 metros
Largura (com espelhos): 2,14 metros
Entre-eixos: 2,99 metros
Altura: 1,56 metro
Porta-malas (litros): 656 (atrás) e 27 (na frente)
Rodas e pneus: 255/40 R22
Peso: 2.200 kg
País de origem: Áustria