Desde que alguns carros passaram a vir conectados, abriu-se um novo leque de possibilidades. Com chips próprios de internet, os veículos se tornaram capazes de baixar atualizações de forma remota. Ou seja, tal como diz a sigla OTA (em inglês), de “Over The Air”, podem receber melhorias “pelo ar”. De início, essa tecnologia serviu a outros serviços. Por exemplo, central de atendimento (concierge) e função SOS, que envia a localização em caso de acidente grave, para acionamento imediato da ambulância. E o hotspot de Wi-Fi.
Entretanto, os carros mais novos já podem receber upgrades dos mais diversos sistemas, inclusive para recursos de segurança. Bem-vindo à era dos algoritmos automotivos! Na Europa, o facelift do Toyota Corolla, por exemplo, incluiu recursos digitais e multimídia com atualizações contínuas entre as novidades. Logo a tecnologia chegará ao Brasil, onde o carro mais vendido do mundo ganhará a reestilização em 2023.
No Brasil
Por aqui, modelos da Volvo e da Chevrolet, pioneira com o OnStar, já dispensam a ida à concessionária para receber algumas atualizações. Ou instalar novos aplicativos, como o Spotify, por exemplo. De acordo com a GM, “a nova arquitetura eletrônica Ultifi prevê a possibilidade de personalizar até parâmetros do motor”. Essa novidade, porém, deve estrear no Brasil só com o Blazer EV – que tem lançamento previsto para 2024, primeiro nos EUA.
Na visão de Leimar Mafort, gerente de engenharia da divisão Cross-Domain Computing Solutions, da Bosch, isso terá enorme impacto nos carros. “(As atualizações) vão desde o aprimoramento de funções já disponíveis, até a compra de funções que poderão ser ativadas por tempo determinado”, explica o especialista. “Imagine ‘alugar’ um serviço de piloto automático adaptativo (ACC) para fazer uma viagem mais longa. Ou mesmo fazer a compra definitiva de funções. Estamos diante do conceito de veículos definidos por SDV (Software Defined Vehicle)”, aponta Mafort.
Tesla
Por ora, ainda não é comum a atualização remota de softwares de segurança. A Tesla é exemplo disso. A fabricante já oferece todo tipo de atualização. Há desde recursos na parte de entretenimento e até melhorias no sistema de direção semiautônoma. Entretanto, a tecnologia pode trazer problemas aos órgãos reguladores. A marca de carros elétricos do bilionário Elon Musk já foi alvo de diversos recalls e investigações nos Estados Unidos. A atualização no sistema de freios do Model 3, por exemplo, deu o que falar em 2018. Como resultado, forçou o recall de milhares de exemplares.
BMW
Com chip de internet, os carros são capaz de receber correções e melhorias, e, assim, ficarem sempre “novos”. A BMW já tem 100% dos veículos conectados desde dezembro de 2016. Eles trazem um cartão SIM que disponibiliza os serviços remotos por três anos. De acordo com a marca, “a atualização remota do software está disponível para mais de 30 modelos (quase toda a frota) equipados com o BMW Operating System nas versões 7 e 8”.
A BMW oferece atualização remota de software periodicamente, conforme detalha Ricardo Goto, gerente de suporte ao cliente no Brasil. E nada disso tem custo extra. Os serviços conectados da marca bávara oferecem, por exemplo, gravação dos últimos segundos em câmeras 360 graus e cronômetro de voltas rápidas. Além disso, faz melhorias na condução semiautônoma, na assistência ao motorista e na conexão com casas conectadas.
Como funciona a atualização remota
Para poder receber atualizações remotas, o veículo precisa de um módulo de conectividade e de unidades eletrônicas predispostas ao upgrade remoto. Tal como ocorre nos celulares, o primeiro faz a ponte entre os servidores da montadora e os diferentes módulos atualizáveis dentro da arquitetura do veículo. E a internet permite fazer o download.
De acordo com Mafort, há diversas discussões sobre a evolução da arquitetura eletroeletrônica dos carros. “Para que todas as unidades possam receber atualizações de forma estruturada, as arquiteturas caminham para a centralização. Ou seja, um computador central assume grande parte das funções. E os demais cumprem funções locais”, explica.
“O essencial para que essas atualizações remotas sejam viáveis é que exista uma unidade de conectividade. E que demais – que receberão as atualizações – tenham predisposição para que o acesso remoto seja feito”, resume. O que exige também medidas de cibersegurança, para garantir o acesso seguro aos módulos atualizáveis.
O executivo da Bosch diz que haverá lojas de aplicativos no futuro para os veículos, com variados sistemas e funções disponíveis. Por exemplo: quer ter controle de cruzeiro adaptativo (ACC)? Basta um clique. Em comparação a essa possível realidade, “o exemplo dos smartphones é um ótimo ponto de partida”, resume.
Os serviços disponíveis no Brasil
O mercado brasileiro começou a receber mais carros conectados a partir de 2021. Foi quando a Stellantis lançou no País as plataformas de Fiat e Jeep, com serviços online, Wi-Fi e localizador. Um dos destaques foi a conectividade com smartphones por meio de aplicativo. Dessa forma, passaram a oferecer comandos à distância. É possível, por exemplo, dar a partida do motor. Ou criar alertas de segurança, acionar o ar-condicionado e destravar as portas. Tudo pelo celular.
O Jeep Compass e a picape Fiat Toro foram os primeiros a ter a tecnologia, que veio com novas telas multimídia, com até 10 polegadas. Além de conectadas, são mais rápidas. E trazem, por exemplo, conexão sem fio (via Bluetooth) com as plataformas Android Auto e Apple Carplay. Assim, basta dar a partida do motor e a tela se conecta ao smartphone. E faz o espelhamento de apps populares, como Spotify e Waze, por exemplo.
Desde então, outros modelos ganharam tais tecnologias. A Hyundai lançou o seu sistema conectado para HB20 e Creta. Recentemente, a GM trouxe o novo Equinox com um sistema que permite conectar o SUV aos equipamentos de casa, por meio de assistentes virtuais, como a Alexa da Amazon. Assim, é possível comandar dispositivos (do carro e de casa) por voz.
Outro Chevrolet que poderá receber atualizações remotas é a nova Montana. A picape está em fase final de desenvolvimento e estreia em 2023, com produção na fábrica de São Caetano do Sul (SP). Segundo a General Motors, ela terá nova central multimídia que “nascerá como uma extensão do painel de instrumentos”. Ou seja, tudo leva a crer que o painel será igual ou parecido com o do novo Tracker RS (foto acima), com duas telas integradas de 10,25″.
Telas personalizáveis
Depois de o rival Google lançar novos comandos de voz, a marca da maçã divulgou novidades para o Carplay. O objetivo é oferecer maior integração com os carros. Chamada de “IronHeart” (“coração de ferro” em português), a plataforma está em testes. E é considerada uma grande aposta da Apple no setor automotivo. Até porque o Carplay já faz parte de mais de 600 modelos de carros de montadoras como Audi, BMW, Honda e VW.
Com as atualizações, os usuários poderão comandar funções gerais dos carros. A plataforma, assim, vai trabalhar com “troca de dados”. Ou seja, terá acesso para operar controles dos veículos. Entre os principais comandos, estão o acesso ao sistema de climatização, velocímetro e ajuste de assentos. Além disso, permitirá mudar as estações de rádio e outras configurações. O novo Carplay vai permitir até customizar as telas com o padrão da Apple.