A vitória de Javier Milei como presidente da Argentina, no último domingo (19), agitou não só a web, mas também as rodas de conversas de quem discute o setor automotivo. Afinal, durante sua campanha, o novo chefe do Poder Executivo do país vizinho fez ameaças, dentre elas, fechar o Banco Central, mudar a moeda e até sair do Mercosul (bloco econômico regional). Com isso, não haveria mais o livre comércio entre Brasil e Argentina, ou seja, os carros precisariam pagar impostos de importação.
Desse modo, todos os modelos fabricados na Argentina e importados ao Brasil ficariam mais caros (e vice-versa) e, assim, perderiam em competitividade. Essa perda de competitividade, por sua vez, poderia tirar alguns carros de linha no País. Por exemplo, dificilmente o cliente pagaria a mais pelo Peugeot 208 uma vez que o portfólio de hatches de entrada é composto por boas opções, como Chevrolet Onix e Volkswagen Polo e companhia. Afinal, se o hatch da marca francesa já não tem boa saída hoje em dia, imagine se precisar embutir o imposto ao valor final.
Em números, cabe recordar, o 208 vendeu 2.832 unidades em outubro, de acordo com números da Fenabrave. Em contrapartida, o Onix ultrapassou as 10 mil unidades. Já o VW Polo, tem vantagem ainda mais larga sobre o francês produzido na Argentina. O modelo já disputa com a Fiat Strada (ambos tiveram mais de 11 mil registros no mês passado) o posto de mais vendido do Brasil na lista que contempla automóveis e comerciais leves.
Carros que vêm da Argentina para o Brasil
Além do hatch, fabricado em El Palomar, outros nove carros são importados da Argentina para o Brasil. São eles: Chevrolet Cruze e Sport6 (fábrica de Santa Fé), Fiat Cronos (Córdoba), Ford Ranger (General Pacheco), Nissan Frontier (Santa Isabel), Toyota Hilux e SW4 (Zárate) e, por fim, os Volkswagen Amarok e Taos (General Pacheco).
O que pode acontecer?
Apesar das ameaças de campanha do presidente de direita argentino, como “não lidar com comunistas”, referindo-se aos chineses, e também alegar que o governo Lula está “usurpando a liberdade de imprensa e perseguindo a oposição” e que, por isso, não poderia apoiá-lo, o chefe do Poder Executivo do país vizinho não poderia realizar qualquer ação de imediato contra a indústria automotiva. Afinal, Milei sequer tem a maioria do Congresso, o que dificulta votações de projetos.
Assim, no que depender disso, nenhum dos carros importados hoje ao Brasil deve sair de linha tão cedo. Até porque o livre comércio também interessa à Argentina, que é o maior fornecedor externo de carros para o Brasil. Só em 2022, País comprou o mais de US$ 4,6 bilhões em automóveis do país vizinho. A exportação de veículos para a Argentina, entretanto, foi menor. No ano passado, o montante ficou em US$ 1,8 bilhão.
Embora tudo isso possa não passar de ameaça de campanha, por outro lado, há, sim, a possibilidade de tornar-se real. Afinal, mesmo sem mencionar em campanha, o governo Lula tratou de taxar os veículos elétricos a partir de janeiro do ano que vem. Ou seja, os modelos movidos a baterias, que não pagavam taxa de importação desde 2015, voltarão a ter alíquota de 35%, gradativamente, a partir de 2024. Ou seja, tanto aqui quanto lá, tudo depende do interesse do governo.
Siga o Jornal do Carro no Instagram!