Pátios vazios, filas de espera, queda nas vendas. Esses são alguns dos reflexos das paralisações na produção de automóveis desde o começo de 2020. Com o agravamento da pandemia da Covid-19, no entanto, a maioria dos casos agora se deve à falta de componentes eletrônicos, principalmente, semicondutores. É justamente isso que obrigou a Renault a interromper a produção da fábrica de São José dos Pinhais (PR) nesta segunda-feira (2), tanto de carros quanto de comerciais leves.
Assim, a marca francesa é a mais nova montadora afetada pela crise dos chips no Brasil. A fabricante percebeu que a situação não se normalizará tão rapidamente – especialistas preveem melhoras só em 2022. Com isso, o jeito é desligar as máquinas. Os baixos estoques de componentes da fábrica obrigou a Renault a deliberar férias coletivas por dez dias a partir desta segunda (2). Dessa forma, deixam de ser feitos momentaneamente os modelos Captur, Duster, Kwid, Logan, Sandero e Stepway.
Na última semana (nos dias 29 e 30), os trabalhadores também foram dispensados do expediente na fábrica. Os dias serão compensados depois, mas ainda não há data fechada. A princípio, a unidade CVU, que produz os veículos comerciais leves também terá as atividades interrompidas, porém por um período menor – até a próxima sexta-feira (6). Já a produção do furgão Master retorna na segunda-feira (9).
Histórico
No primeiro semestre, a Renault já tinha paralisado a produção do Complexo Industrial Ayrton Senna. Entre o fim de março e começo de abril, só os serviços essenciais permaneceram in loco.
Enquanto algumas fabricantes, como a Toyota, seguiram firmes nesse período, equilibrando-se no gerenciamento de insumos, outras amargaram (e vêm amargando) consequências drásticas. Até o momento, a fabricante mais afetada no Brasil é a General Motors.
A falta de semicondutores acertou em cheio os Chevrolet Onix e Onix Plus, que pararam de ser feitos na planta de Gravataí (RS) no finalzinho de março. De acordo com a última previsão, a fábrica deve voltar à ativa ainda nesta semana. Até o fechamento desta reportagem, a GM não retornou aos questionamentos do Jornal do Carro.
Entretanto, a unidade de São Caetano do Sul (SP) adiou o retorno e seguirá sem produzir carros até o próximo dia 26 de agosto. Por lá, a falta de semicondutores afeta Onix Joy, Onix Joy Plus, Spin e Tracker, que, nos últimos dias, retomou as vendas da versão para PCD. A confirmação veio, então, do sindicato dos metalúrgicos da região.
Pesquisa revela números alarmantes
Segundo estudo do Boston Consulting Group (BCG), a falta de chips para carros deve reduzir a produção global de veículos neste ano em cerca de 5 milhões a 7 milhões de unidades. Só na América do Sul, a consultoria norte-americana estima que 162 mil modelos deixaram de ser entregues no primeiro semestre deste ano por causa da escassez de peças.
Deste total, cerca de 130 mil unidades correspondem só ao Brasil. O País responde por aproximadamente 80% da produção de veículos na região.
Outras marcas afetadas
Entre as montadoras afetadas pela crise dos semicondutores estão Honda, Nissan e Hyundai. Esta última, aliás, retomou as atividades dos três turnos no último dia 19. “A empresa segue monitorando a situação de instabilidade no fornecimento de componentes eletrônicos e tomará as medidas necessárias para adaptar, sempre que necessário, os volumes de sua produção”, informou a HMB, em nota.
A Volkswagen também tem passado por dificuldades e, nesse sentido, vêm interrompendo algumas de suas linhas de produção. Desde meados de julho, as unidades de São Bernardo do Campo e de Taubaté, em SP, sofreram baixas. Em suma, a montadora concedeu férias de 20 dias na fábrica do interior paulista e parou um turno na unidade da Anchieta pelo mesmo período. Ficam, assim, comprometidas as produções de Gol, Nivus, Polo, Saveiro, Virtus e Voyage.