O avanço dos SUVs nas vendas em 2021 não deixa dúvidas de que o segmento é o protagonista do mercado brasileiro na atualidade. Pouco a pouco, os utilitários já superam os sedãs e, agora, aproximam-se cada vez mais dos hatches compactos. O que levanta uma questão: ainda vale a pena investir em um hatch aventureiro como o Renault Stepway?
Até 2019, antes da pandemia, a marca francesa considerava a versão aventureira do Sandero uma peça-chave no Brasil. Isso ocorria porque o modelo tinha boa saída e, aparentemente, conseguiu trilhar um caminho de sucesso, tornando-se uma referência no nicho. O problema é que o mercado mudou desde então. E a “suvização” já chegou aos hatches compactos.
Na última semana, o Jornal do Carro trouxe novidades sobre a nova geração do VW Gol. Pois o hatch de entrada campeão da marca alemã vai se transformar em um pequeno SUV sobre a base modular do Polo. A própria Renault já tem um “substituto” para o Stepway: trata-se do SUV Kiger, um derivado do Kwid com tamanho próximo do… Stepway!
Vícios e virtudes
Embora seja um veterano diante de tantos lançamentos, o atual Sandero Stepway ainda tem suas qualidades. Uma delas é o porte avantajado, que lhe garante espaço interno digno de carro médio. O entre-eixos com 2,59 metros e a boa largura de 1,73 metro entregam uma cabine ampla para até cinco passageiros adultos, bem como um porta-malas de 320 litros.
Para fins de comparação, o novo Renault Kiger, que pode chegar ao Brasil, tem 2,50 m de entre-eixos e 3,99 m de comprimento. Ou seja, é um tantinho menor que o Stepway, com seus 4,07 metros. Entretanto, o SUV compacto lançado na Índia é mais alto e musculoso, tem aparência mais moderna, além de um porta-malas com capacidade para 405 litros.
De volta ao Stepway, após sete anos de mercado, o hatch lançado em 2014 também tem seus defeitos. Por exemplo, o aventureiro nasceu de um projeto mais simples, que é a base de Logan e Sandero. E essa veia de “carro barato” ainda é vista em vários detalhes. Isso mesmo a Renault tendo se esforçado para melhorar o acabamento nas duas reestilizações.
Há ainda outras limitações tecnológicas. Enquanto vários concorrentes evoluíram para plataformas mais modernas, e assim absorveram tecnologias, o Stepway parou no tempo e traz apenas o trivial para a disputa. Ou seja, tem airbags frontais e laterais, freios com ABS/EBD, controle de estabilidade (ESC), Isofix e câmera de ré.
Categoria em evolução
Um bom exemplo de antiguidade no Renault Stepway é o sistema de direção eletro-hidráulica. Embora seja uma evolução do sistema apenas hidráulico, a verdade é que o motorista sente o peso maior da direção ao conduzir o modelo e, principalmente, na hora de fazer a baliza. Quem está acostumado com a leveza das direções elétricas nota a diferença de imediato.
Só que o Stepway não é um carro barato. Atualmente, o aventureiro parte de R$ 96.490, e chega a R$ 97.990 com a pintura metálica. Assim, está exatamente na faixa dos R$ 100 mil, onde há vários SUVs mais modernos e recentes. A categoria, inclusive, começa a migrar para motores 1.0 turbo, um movimento liderado por Chevrolet Tracker e Volkswagen T-Cross.
É justamente nessa mesma faixa de preços que a Fiat vai inserir o Pulse, seu primeiro SUV nacional, em setembro. O modelo feito sobre a base refinada do hatch Argo terá motor 1.0 GSE turbo flexível com injeção direta de combustível, bem como tecnologias modernas. Umas delas, a multimídia de 10″ do Jeep Compass, que é conectada à internet.
Nesse sentido, o Stepway é quase uma viagem ao passado. Enquanto o Fiat Pulse terá display colorido atrás do volante e sistemas avançados de segurança, como frenagem automática de emergência, o aventureiro da Renault traz telinha monocromática no quadro de instrumentos e a multimídia de 8″ com Apple CarPlay e Android Auto, mas sem internet.
Vale a compra?
Se o Stepway parou no tempo, a concorrência não o fez. Hoje, o aventureiro da marca francesa está caro pelo que entrega em termos tecnológicos. E não é só sobre os equipamentos, mas também em relação ao conjunto mecânico e à própria plataforma. O motor 1.6 16V flexível de até 118 cv e 16 mkgf (com etanol) dá conta do recado, mas não empolga.
Isso é uma característica do câmbio CVT, que prioriza o consumo e o baixo regime de giros do motor. O zero a 100 km/h leva longos 11,2 segundos. Seja como for, nem mesmo no consumo o Stepway impressiona. Segundo o Programa de Etiquetagem do Inmetro, o hatch faz médias de 7,7 km/l, na cidade, e de 8,3 km/l, na estrada, com etanol.
Na prática, o modelo segue a clássica receita dos hatches aventureiros. Ou seja, tem suspensão elevada, além de adereços que realçam o visual “fora-de-estrada”. Assim, entrega um conjunto de molas e amortecedores que transmite robustez sobre asfalto ruim e terra. Ao volante, parece ser capaz até de encarar trilhas leves – nada, porém, que exija 4×4.
No fim, tem-se o estilo, uma suspensão mais robusta e muito espaço. De outro lado, desempenho moderado e um pacote de equipamentos apenas adequado. O problema, portanto, é o posicionamento. Para fazer sentido, o Stepway precisaria ser mais barato. Resta saber o que a Renault prepara para 2022, quando Logan e Sandero terão a nova geração.