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Jaguar XJ6 Coupé 1977 tem gosto de amor proibido
Carro do leitor

Jaguar XJ6 Coupé 1977 tem gosto de amor proibido

Economista sonhou com o raro cupê desde que as importações de carros foram vetadas no Brasil, em 1976

28 de ago, 2016 · 5 minutos de leitura.

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 Jaguar XJ6 Coupé 1977 tem gosto de amor proibido
Cupê agrada pelo comportamento dinâmico, mas acesso ao banco traseiro é complicado

Amores proibidos são tão intensos que fazem história. Mas, se na tragédia de Shakespeare o que separava Romeu e Julieta era a inimizade entre as respectivas famílias, na relação platônica entre o economista Julio Penteado e o Jaguar XJ6 Coupé o vilão foi o governo brasileiro – que vetou as importações de veículos em 1976, afastando os fãs de carros antigos de suas paixões.

“O modelo foi apresentado em 1975 e não deu tempo de chegar nenhum exemplar ao Brasil antes da proibição”, ele lembra.

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Fã da marca Jaguar desde o lançamento do esportivo E-Type, nos anos 1960, Penteado não tirou o XJ6 da cabeça. Para complicar, ele foi gostar justamente da variante mais rara do modelo. “Das 500 mil unidades feitas desde 1968, só 8.300 são cupês. É difícil encontrá-los até no Reino Unido. No Brasil, há apenas sete exemplares.”

As importações voltaram a ser permitidas em 1990, mas o economista só conseguiu adquirir o modelo sonhado em 2013. Ele encontrou o exemplar de 1977 à venda na internet, nos Estados Unidos, e cuidou pessoalmente de sua remessa ao Brasil, depois que o profissional que havia contratado para a tarefa não cumpriu com o combinado. “Meu carro passou cinco meses largado ao relento em solo americano. O painel até rachou sob o sol”, queixa-se o economista.

Antes da viagem, o cupê ganhou novos amortecedores, pneus e para-choques e um velocímetro com marcação em km/h. Dos detalhes que faltaram, o dono vai cuidando aos poucos, quando suas finanças permitem. “Agora vou refazer a pintura e o estofamento”, ele conta.


Predicados. Ao falar sobre o XJ6, Penteado não poupa elogios. “Ele combina a elegância de cupê e o conforto de sedã. É um carro ‘na mão’, com DNA de corrida, mais ágil e melhor em curvas que os alemães”, compara. “Pelo tamanho, você entra nele esperando algo como um Mercedes-Benz, e se surpreende ao perceber que ele se comporta como um esportivo.”

A nota destoante é o acesso à traseira da cabine. Os encostos dos bancos dianteiros são rebatíveis apenas até 90°. Para os passageiros entrarem, é preciso deslizar os assentos totalmente para a frente.

“Uma modelo já passa com dificuldade; alguém mais corpulento entra e nunca mais sai do carro”, brinca o economista, sem sinal de desânimo. “Vou desmontar os bancos e fazer uma gambiarra para resolver esse problema.”


Ao rodar pela cidade a bordo do Jaguar, Penteado procura manter a discrição. Diz que o momento atual não comporta ostentação e, em tom de nostalgia, considera que a capital paulista se tornou uma cidade inóspita para carrões.

“Em 1984, eu ia buscar minha esposa na faculdade guiando um DeTommaso Pantera. Pegava as avenidas Brasil e Sumaré e esticava até 150 km/h rumo ao Parque Antártica. Vá tentar fazer isso hoje!”


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