Rafaela Borges
A turma dos hatches compactos, que são os carros mais populares do País, tem novos integrantes. E, para não perder muito espaço para concorrência, os veteranos se renovaram. A Fiat optou por fazer uma mudança radical no Palio há quase um ano, quando ele mudou de geração. Líder de vendas há 26 anos seguidos com o Gol, a Volkswagen foi mais modesta e promoveu uma plástica no carro. Neste comparativo, as versões de entrada dessa dupla são desafiadas pelo Toyota Etios, que acaba de chegar às lojas, não é o mais belo dos rostinhos, mas deixa todo mundo para traz na hora da corrida de velocidade.
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Graças ao motor de 1,3 litro e até 90 cv – os dos outros dois são 1.0 -, o novato tem eficiência mecânica e vigor atípicos para o segmento. Na hora de analisar os detalhes, o Gol mostrou ao estreante por que a liderança não se constrói do dia para a noite e conquistou a vitória, com o Etios em segundo e o Palio no terceiro lugar.
A R$ 27.990, o Gol tem a tabela menor, mas não vem com a direção hidráulica e as travas elétricas do Palio (R$ 28.440) nem com o duplo air bag frontal do Etios (R$ 29.990). Mas tem lista de equipamentos mais democrática.
Seus opcionais são praticamente os mesmos do Fiat, mas no VW a possibilidade de adquirir os itens separadamente é maior. Neste quesito, aliás, o Etios comete um erro grave.
Preocupada em simplificar a produção, a Toyota oferece quatro pacotes de equipamentos “amarrados” e interdependentes. Para ter ar-condicionado, por exemplo, o comprador Terá de desembolsar R$ 36.190.
A boa notícia é que, ao posicionar-se no banco do motorista há uma surpresa.Esperto, com câmbio preciso, suspensão confortável e volante com boas respostas, o Toyota pode passar a impressão de que é de um segmento superior.
Mas aí vem o choque de realidade e detalhes, como a falta de retrovisores elétricos até na versão de topo, mostram que a vida a bordo do Etios pode ser bastante irritante. O Palio, embora seja parecido com o Gol em vários aspectos, levou a pior por ter desempenho muito inferior ao dos dois rivais.
Volkswagen Gol: Eficiência para manter a liderança – Ser o carro mais vendido do Brasil há duas décadas e meia é uma tarefa e tanto. E se nas gerações anteriores houve dúvidas quanto à eficiência do Gol para ocupar a vaga, a atual, lançada em 2008, prova que merece o prestigiado posto. O VW ganhou mudança estética a tempo de enfrentar a concorrência crescente, tem preço justo para o segmento e conjunto mecânico eficiente.
Com elementos da plataforma do Polo alemão, como suspensão e sistema de direção, ele é agradável de guiar. Seu câmbio de trocas fáceis não arranha, é preciso e bem escalonado. Torna mais fácil a missão do 1.0 flexível de até 76 cv, bastante esperto no dia a dia da cidade, seu hábitat natural.
Não é páreo para o Toyota, capaz de ir de 0 a 100 km/h em 11,8 segundos. Mas, como consegue cumprir a mesma missão em 12,9 segundos, representa um abismo ante os 15 segundos do Palio – os números são das fabricantes. Na prática, a diferença entre o VW e o Fiat parece bem maior, principalmente em retomadas.
O acabamento do Gol, em contrapartida, está um nível abaixo do oferecido no Palio, mas ainda assim agrada. A cabine fica mais interessante com o volante multifuncional, parte do kit Trend, que inclui direção hidráulica e som.
A total falta de itens de série relevantes no Gol é seu maior pecado. Para não dizer que o hatch não traz absolutamente nada, o volante com ajuste de altura e profundidade vem de série. E, ao menos, sua lista de opcionais é ampla.
Toyota Etios: Irritante, mas com prazer ao volante – Procura-se na chave o botão para abertura das travas por controle remoto. Não há. Ao volante, antes de sair, nota-se que os ajustes do retrovisor externo têm de ser feitos manualmente. E estamos com a versão de topo. Definitivamente, o Etios é irritante. Já faz mais de uma década que os carros brasileiros, mesmo os de entrada, trazem essas comodidades.
Primeiro produto da fábrica que a Toyota inaugurou este ano em Sorocaba (SP), o Etios (na versão hatch e sedã) é a grande aposta da montadora para o Brasil. Seu conjunto mecânico é sua principal arma: em acelerações e retomadas chega a humilhar os rivais 1.0.
Dos três, é o que tem o melhor ajuste de suspensão. Pode não ser tão bom de curvas quanto o Gol, mas oferece excelente conforto para a buraqueira de algumas ruas da cidade. A direção eletroidráulica – nos demais, é hidráulica – amplia a boa sensação.
O acabamento, em contrapartida, chega a causar mal estar. Peças mal encaixadas e rebarbas estão por todos os lados. O quadro de instrumentos no painel central é feio e nem um pouco funcional. Obriga o motorista a desviar os olhos o tempo todo do trajeto.
De série o Etios tem duplo air bag frontal. Com direção, freios ABS e desembaçador traseiro, entre outros itens, seu preço vai a R$ 33.490.
O pacote mais caro eleva a tabela para R$ 38.790. Nele, os destaques são o sistema de som com toca-CDs, MP3 e entradas auxiliar e USB, além das travas e dos vidros elétricos.
Palio: Moderninho que carece de fôlego – Em sua primeira mudança de geração desde os anos 90, quando foi lançado no Brasil, o Palio investiu no espírito jovem – algo que a Fiat já fazia com o novo Uno. Há diversas possibilidades de personalização e muitas opções de itens “descolados”. Até mesmo teto solar. Tudo isso alinhado ao desenho de inspiração italiana para lá de atraente.
O Palio é um carro agradável de se olhar. Dentro dele, tudo é interessante. O Fiat tem o melhor acabamento entre os três carros deste comparativo. Alguns adesivos nos painéis são de gosto duvidoso, mas, no geral, a qualidade é boa.
Há alguns pecados de ergonomia, a começar pela posição inconveniente do botão de ajuste elétrico do retrovisor, que fica na coluna A. Os porta-copos, logo abaixo do painel central, também são mal localizados.
O que coloca o Palio na lanterna deste confronto é o desempenho. Seu 1.0 flexível de até 75 cv tem quase a mesma potência do motor do Gol, mas fica aquém em eficiência.
O Palio é lento, o que transforma as subidas em um verdadeiro martírio. Ultrapassar outros carros é complicado. O motor “grita” muito quando exigido e isso incomoda. O câmbio tem engates fáceis, mas poderia ser melhor se as primeiras marchas fossem mais curtas, o que certamente daria desenvoltura do Fiat na cidade.
A direção hidráulica é de série, mas com ar-condicionado a tabela vai a R$ 31.122. Ao optar pelo kit Creative III, que soma vidros elétricos dianteiros, o preço sobe para R$ 32.902.
