A função de avaliar veículos nos obriga a rodar pela cidade inteira, para verificar como o carro se comporta em pisos diferentes, curvas mais fechadas e diversos outros parâmetros. Só ir e voltar para casa de “naves” não resolve a questão. E nessas de ir e vir, estas andanças pela cidade me levam a lugares cercados de mansões e por outros onde revestimento de massa na parede de tijolo é luxo.
E há dois modelos, que estão longe de serem os mais vendidos de seus segmentos, que fazem muito sucesso em locais mais humildes: Honda Civic e Volkswagen. É muito curioso constatar que esses dois carros são sonho de consumo absoluto para pessoas que não podem comprá-lo. E sejam deixados de lado pelos que podem.
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No caso do Civic, ele teve 2.084 unidades vendidas em julho, contra 4.364 do Corolla, seu grande rival. Para o Golf, o segmento já é mais restrito, com o líder Chevrolet Cruze indo parar em 405 garagens. Mesmo assim, o Golf teve menos da metade disso, com 187 entregas. Mas vá perguntar de Corolla e Cruze na “quebrada” para ver se alguém liga? Eu perguntei e a resposta é não, ninguém liga.
Veja mais: velocidades máximas dos carros dos anos 1980
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VW GOL
A primeira geração do Volkswagen Gol estreou com o mesmo motor Boxer 1.6 refrigerado a ar que foi usado pelo Fusca e todos os seus derivados. Com ele, o hatch atingia 142 km/h. Com os motores da família AP, o desempenho melhorou muito: o 1.6 chegava a 163 km/h e o 1.8, a 168 km/h. Em 1989, a versão GTi, com inédita injeção eletrônica, foi lançada, com 173 km/h de velocidade máxima.
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VOLKSWAGEN PASSAT
Na década de 1980, o VW Passat teve versões com motores de 1,6 litro (com máximas de 152 a 158 km/h, conforme a safra) e 1,8 litro (com máximas entre 166 e 170 km/h)
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VOLKSWAGEN SANTANA
Lançado em 1984, protagonizou com o Chevrolet Monza um duelo entre sedãs médios que equivaleria ao travado hoje entre Civic e Corolla. O motor AP-1800 permitia ao Santana atingir 171 km/h. Mais tarde, viriam opções com motor 2.0.
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FORD CORCEL II
A segunda geração do Corcel foi lançada em 1978 e saiu de linha em 1986. O carro era pesadão demais para o fraco motor CHT 1.6, herança do Gordini; com ele, chegava a meros 145 km/h. A versão esportiva GT ia pouca coisa além: 151 km/h.
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FORD ESCORT
Equipado com o mesmo motor CHT 1.6 do Corcel, o Escort era bem mais leve e conseguia chegar a 159 km/h. O esportivo XR3, num primeiro momento, usava uma versão retrabalhada desse motor, com máxima de 163 km/h.
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CHEVROLET CHEVETTE
Na década de 1980, o compacto da Chevrolet já usava um motor 1.6 bem melhor que o 1.4 de seus primeiros anos de carreira. Com ele, chegava a razoáveis 150 km/h.
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CHEVROLET MONZA
Objeto de desejo absoluto da década de 1980, o Chevrolet Monza tem uma legião de fãs até hoje. Com motor 1.8, chegava a 157 km/h; com o 2.0, que estreou na gama em 1987, a máxima era de 170 km/h.
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CHEVROLET KADETT
O Kadett marcou os anos 1990, mas foi lançado em 1989. Em sua estreia, ainda não tinha injeção eletrônica. Com motor 1.8, chegava a 160 km/h. Já a versão esportiva GS usava um propulsor de 2 litros que o permitia alcançar 171 km/h.
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CHEVROLET OPALA
O saudoso Opalão tinha duas configurações mecânicas: 2,5 litros e quatro cilindros, com máxima de 149 km/h, ou 4,1 litros e seis cilindros, que podia chegar a 176 km/h.
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FIAT 147
O carrinho que marcou a estreia da Fiat no Brasil entrou na década de 1980 com motorizações de 1.050 cm³ e 1.300 cm³, cujas velocidades máximas pouco diferiam entre si: 138 e 140 km/h, respectivamente. A versão esportiva Rallye chegava a 142 km/h.
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FIAT UNO
Apelidado de "botinha ortopédica" em seu lançamento, em 1984, o Uno viveu muitas transformações. Na década de 80, as versões com motor 1.3 chegavam a 145 km/h, com exceção da esportivada SX, em que o propulsor atingia 155 km/h. Em 1987, o modelo ganhou uma versão esportiva de fato, com motor de 1,5 litro que chegava a 163 km/h (e seria mantido até 1990). Também em 1990, o Uno inaugurou a era dos chamados "carros populares", com motores 1.0. Na versão Mille, ele só tinha fôlego para chegar, com sofreguidão, aos 135 km/h.
Também perguntei os motivos. Os do Civic são design mais moderno e motor turbo (que o pessoal geralmente não sabe que é só na versão de topo, mas sabe que tem). No do Golf, bem… Gol é Golf, é sonho de consumo desde o GTi dos anos 2000. “O Golf anda muito” é sempre a resposta.
As “naves” dos sonhos
No campo dos sonhos, coisas como manutenção, durabilidade, cesta de peças, seguro e consumo não entram na conta. Facilidade de revenda e desvalorização também não. E fica ainda mais difícil elucidar esse mistério porque os carros citados não são ruins nestes aspectos, muito pelo contrário.
Há alguma outra coisa que faz com que os líderes sejam líderes e as “naves” não. Preço de tabela pode ser um e boca a boca também. Para Civic e Golf, a falha talvez seja um mero erro de público alvo em aspectos essenciais, já que sucesso eles fazem, só que com o público “errado”.
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