Primeira Classe

Toscana de carro: o que você precisa saber

Percorrer a Toscana é programa obrigatório para fãs de viagens de carro

Rafaela Borges

09 de set, 2019 · 20 minutos de leitura.

San Gimignano, Toscana" >
Conversível e arquitetura toscana em San Gimignano
Crédito: Fotos: Rafaela Borges

Para os fãs de viagens de carro, Toscana é um dos destinos europeus obrigatórios. A região italiana tem todos os ingredientes essenciais para uma “road trip”: alternância entre estradas rápidas e secundárias com lindas paisagens e muitas cidades interessantes para se conhecer no caminho (repletas de história), em um raio de cerca de 400 km.

Este é o primeiro de três posts que farei, no decorrer desta semana, sobre minha viagem de carro pela Toscana, em agosto. Aqui, você vai conferir detalhes, como estradas, estrutura de estacionamentos, onde fazer base (ou bases), etc. No segundo, falarei sobre alguns “perrengues” que passei (acontece com todo mundo), e darei dicas sobre como não cometer esses erros.

Por fim, há o carro. Escolhi um conversível, o C200 Cabrio, da Mercedes. O teto retrátil é ideal para curtir as paisagens e o clima do verão europeu nessa parte da Itália.


Introdução à road trip pela Toscana

Na Toscana, a estrutura de estacionamentos é boa, dependendo do local. Mas é preciso saber o que se está fazendo, porque na maioria dos centros históricos, há restrição para circulação de carros.

Outro ponto importante é escolher bem o roteiro. Ele deve ser de duas cidades por dia, no máximo três, para uma viagem calma e relaxada. Privilegie as próximas uma das outras para conhecer em um dia.

 


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Sete dias é o tempo mínimo para se percorrer a Toscana de carro. De três a quatro devem ser reservados para Florença. Outra recomendação é fazer duas bases, e evitar o centro desta cidade, a principal da região.


Adotar o centro de Florença como base da road trip é o maior erro que o viajante pode cometer. Você entenderá por que em alguns dias.

Pedágios na Itália

A minha viagem partiu de Roma. De lá até Cortona, minha primeira base, são cerca de duas horas pela A1, rodovia com pedágio. Paga-se por km rodados.

Para isso, retira-se um ticket na saída de Roma. Ele será pago quando você deixar a rodovia. Paguei 12 euros por pouco menos de 200 km na rodovia.


Roma foi o ponto de partida

 

Fique atento: há geralmente apenas uma (ou nenhuma) cabine com atendimento humano. Uma ou duas são dedicadas a pagamento com moedas e notas de dinheiro. As demais são para Telepass (equivalentes a serviços como nosso Sem Parar) e cartões de crédito.


Evite as cabines dedicadas só a cartões. É bem comum o brasileiro, com chip e necessidade de inserir senha, não ser aceito. Aí, é uma tremenda confusão.

 

SAIBA MAIS SOBRE HOSPEDAGEM NA ITÁLIA


 

Cuidado também na hora de reabastecer. Muitos postos não têm nenhum ser humano para atender. Aconteceu um problema comigo: paguei antecipadamente (obrigatório), mas o combustível não foi liberado na bomba.


 

Recebi um ticket de reembolso. Porém, descobri que o reembolso só podia ser recolhido no mesmo posto, que só tem atendimento humano duas horas por dia. Isso inviabilizou o processo e fiquei no prejuízo.

E quem trabalha nos postos de mesma rede não quer nem saber, nem se interessa em ajudar. Aliás, cuidado: a comunicação em qualquer idioma que não seja o italiano em qualquer cidade da Toscana, inclusive Florença, é praticamente impossível.


Estradas na Toscana

Existe uma rodovia de pista dupla e trânsito rápido que percorre toda a Toscana. Bem conservada, tem 90 km/h de velocidade máxima e não cobra pedágios.

Não a evite, principalmente à noite. Nas vias secundárias, 40 km podem significar até uma hora de viagem. Isso pode ser muito legal principalmente no início do dia, pois, no verão, você poderá ver girassóis aos montes.

Além disso, a região é de belos vinhedos. As estradas também dão acesso a belas cidades medievais, e têm trechos com pequenas montanhas. A paisagem é linda.


Porém, alguns trechos são extremamente estreitos, e de duas mãos. Outros, mal pavimentados. À noite, isso não é nada atraente. Pelo contrário: é perigoso.

Clima

Visitar a Toscana no verão pode ser incrível. É a época em que os girassóis são mais belos. Mas cuidado: grande parte da região é muito quente.

Pode ser bem cansativo subir as ladeiras das diversas cidades medievais com os termômetros acima dos 30 graus. A primavera, com temperaturas um pouco mais amenas, pode ser mais atraente.


 

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Mas se você quiser insistir no verão – o que eu fiz, e não me arrependi -, a pressa deve ser ainda mais ignorada. Nesse caso, escolha um bom hotel “agriturismo” (leia mais abaixo) como base e curta as manhãs na piscina.

Deixe para sair mais tarde. Nessa época, os dias na Itália são muito longos. Em julho, por exemplo, escurece depois das 21h.

No passeio, faça paradas frequentes nos charmosos cafés presentes em qualquer cidade da região.  Hidrate-se bem. Esbalde-se na deliciosa gastronomia italiana. Não economize nos “gelatos”. Você vai conseguir compensar as calorias subindo as ladeiras das cidades medievais.


Bases da viagem

É quase um pecado visitar a Toscana em uma road trip e não se hospedar em um agriturismo. São hotéis rurais que produzem muito do que neles se consome. Alguns têm vinícolas. Outros fazem queijos e pães. Quase todos têm hortas.

São hotéis pequenos, de administração familiar, na maioria. Quase todos têm café da manhã e (importantíssimo) estacionamento gratuitos. Se for verão, nem pense em reservar um sem piscina.


O agriturismo Borgo Syrah

 

Muitos agriturismo estão em prédios históricos e têm decoração clássica. Se você quiser fazer uma base só, escolha um nos arredores de Florença. Caso contrário, há excelentes opções ao redor de Siena, Arezzo e Cortona, por exemplo.

Escolhi o agriturismo Borgo Syrah, próximo a Cortona. Ele fica em uma vinícola e, além dos vinhedos, é rodeado por campos de girassol. Tem piscina, além de café da manhã e estacionamento gratuitos.


A propriedade é belíssima, com muitas áreas verdes, academia, spa, piscina de borda infinita e prédios de arquitetura toscana, inspirada em construções da Idade Média.

Nem pense em se hospedar em um agriturismo se não estiver de carro. Nesse caso, a locomoção será dificílima. Esse tipo de hotel é para quem está em uma road trip.


Cenário de ‘A Vida é Bela’: a escola em que Dora trabalha (Arezzo)

 

Florença é base obrigatória. Uma alternativa é fazer base por lá ou em um agriturismo ou em um hotel fora do centro. Outra é ficar em hotéis desse tipo apenas enquanto estiver de carro. Depois de explorar as outras cidades da Toscana, devolva-o à locadora, e transfira-se para um hotel no centro.

No meu caso, que saí de Roma, a melhor solução é alugar um carro deixando a capital, fazer base no entorno de Siena (ou as demais cidades recomendadas acima) e deixar Florença para o final. Neste caso, devolva-o logo que chegar à cidade, e hospede-se no centro.


Roteiros: vinhos

Se for começar por baixo, vindo de Roma, dedique o primeiro dia à Montepulciano e Montalcino. Na primeira, você vai se deliciar com queijos e lojas de trufas, visitar palácios e conferir mirantes com vistas inesquecíveis.

Montalcino também tem um lindo centro de estilo medieval. Fora dele, estão cerca de 200 produtoras de um dos vinhos mais famosos do mundo, o Brunello di Montalcino.


Montepulciano

 

Se você for apreciador de vinhos, evidentemente vai visitar um vinícola em Montalcino. Duas. Ou três. Em Montepulcinano também. Há vinhos excelentes na cidade.

 


Vídeo: Teste do Cayenne Coupé em região de vinhos da Áustria

 


Entre Montepulciano e Montalcino, são cerca de 40 minutos de lindas estradinhas, com vinhedos, girassóis, muita arquitetura toscana e pontes.

Para ir às duas cidades, no entanto, pense em contratar um motorista – pergunte na recepção do hotel, que terá sugestões. As leis italianas são rígidas quanto à combinação entre álcool e direção.


Vinícola em Montalcino

 

Porém, há sempre a chance de você querer ir a vinícolas todos os dias. Afinal, estamos falando de uma região de incríveis vinhos, que não estão apenas em Montepulciano e Montalcino. Nesse caso, vale investir no sistema motorista da rodada. Cada pessoa do grupo fica sem degustar vinhos um dia. Problema resolvido.

Outros destinos na Toscana

O segundo dia dedicamos à piscina e à dupla Arezzo e Cortona. São cidades boas para fãs de cinema. A primeira foi cenário de “A Vida é Bela”, talvez o mais famoso filme da história do cinema italiano. A cada locação, há placas explicando o papel do local na história.


Catedral de Siena

 

Além disso, vale ficar em Arezzo à noite. A cidade é agitada, cheia de bares, alguns com música ao vivo. Tem também ótimos restaurantes. E, se você não estiver de carro, dá para chegar de trem. A estação central é ao lado do centro.


Cortona, por sua vez, foi cenário do filme americano “Sob o sol de Toscana”. Ambas trazem lindas construções típicas da arquitetura toscana, bem como museus e igrejas. São bem românticas.

Se você quiser sair cedo do hotel, dá pra fazer no mesmo dia Siena e as medievais San Gemignano e, se sobrar tempo, Volterra. Siena é um espetáculo de história, beleza e boa gastronomia.


Linda vista no alto de Montepulciano

 

Ali, no centro histórico, não há só lojas de produtos típicos, como queijos, trufas e vinhos, mas também de famosas marcas de roupas, sapatos, maquiagens, etc.

A Praça Ill Campo é palco do famoso Palio di Siena – o nome dos dois carros da Fiat veio daí. A catedral já tentou competir com o famoso Duomo de Firenze. Renascentista, é magnífica.


Se você tiver mais do que sete dias, vá também a Luca. Já a Pisa merece ser visitada por causa da torre torta, espetacular. Como a cidade fica fora de mão para quem vai de Siena a Florença, talvez a melhor opção seja usar um trem a partir da segunda cidade, em bate e volta. Até porque, além da Torre de Pisa, não há muito mais para ver por lá.

Torre de Pisa

 


Porém, se você estiver disposto a ir a Lugano, a bela cidade litorânea da Toscana, Pisa fica bem no meio do caminho. Aí, vale ir de carro.

Florença

A Toscana tem várias outras cidades que vale a pena conhecer. Há Pienza, Vinci, variações de Chianti. Peruggia não está longe. Nesse caso, porém, talvez sejam necessários pelo menos dez dias, pois Florença merece muita atenção.


Duomo di Firenze

 

A cidade é berço do Renascimento. Sua catedral mais importante, o Duomo, é considerada uma das mais belas e imponentes do mundo. E há diversas outras, como a que abriga os túmulos de Michelangelo e Galileu.

No quesito museus, a Galeria Uffizi é uma das mais importantes do mundo. A Galeria da Academia é a morada de obras importantes como a famosa estátua de Davi, de Michelangelo. Há ainda museus e catedrais dedicadas aos mecenas de Florença, os Médici.


A cidade é um importante centro de compras, reunindo em seu centro lojas das mais importantes e badaladas grifes do mundo. Há ainda o Mercado de San Lorenzo, especializado em artigos de couro italiano. Muitas peças têm belíssimo design, alta qualidade e preços incríveis.

Palacio Vecchio, em Florença

 


Quanto à gastronomia, é riquíssima. Massas e sorvetes existem aos montes, mas o clássico da gastronomia é a bisteca Fiorentina. Aqui, você encontra uma Itália onde a carne é muito valorizada.

Só tome cuidado com as pegadinhas turísticas quando o assunto é gastronomia. Há muitas, pois Florença é uma das cidades mais visitadas do mundo. Fuja das opções no entorno do Duomo, por exemplo.

Dá para ver todo o centro de Florença, a pé, em dois dias. Porém, se você quiser entrar em igrejas, galerias e afins, são quatro dias, no mínimo.


Estacionamentos

Sempre há lugar para parar nas cidades da Toscana. E sempre é preciso pagar. No geral, as tarifas são baixas.

Ao chegar às cidades, procure sempre a placa azul com a sigla “P”. Siga-a. Há áreas abertas, áreas fechadas sem catraca e com catraca.

Nas sem catraca, há sempre um totem para pagamento antecipado. Procure-o, faça o pagamento e deixe o comprovante sobre o painel, à vista.


Volte aqui no blog no decorrer desta semana para ver mais dicas sobre a Toscana.

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