THIAGO LASCO
ILUSTRAÇÃO: MARCOS MÜLLER
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Quem não conhece alguém que comprou um carro zero-quilômetro e decidiu pegar estrada com ele só para “amaciar” o motor? Atitudes como essa são transmitidas por gerações sem serem questionadas. Mas a sabedoria popular esconde mitos e lendas. Consultamos especialistas em engenharia automotiva para desvendar alguns deles.
A prática de amaciar o carro é herança de 30 ou 40 anos atrás, quando os motores possuíam sistemas de combustão e lubrificação que validavam essa prática. “Existe, sim, o assentamento de alguns componentes. Mas, com os testes internos feitos atualmente, o veículo já sai de fábrica amaciado”, diz Gerson Burin, analista técnico do Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi Brasil).
Sobre a sensação que os “carros de madame”, pouco exigidos, teriam desempenho inferior, ele arrisca uma justificativa. “O que pode acontecer, por causa do tipo de uso, é o surgimento de depósito de carvão na câmara de combustão, o que altera o rendimento. Se o dono pisa fundo (no acelerador), isso tende a ocorrer menos.”
Há quem acredite que esticar as marchas e elevar o giro seria prejudicial ao motor. “Isso pode até aumentar o consumo de combustível, mas não compromete a durabilidade”, garante Burin.
A faixa de rotação varia conforme o modelo – é menor em motores a diesel, por exemplo. Mas há limites que têm de ser respeitados. O motorista não deve deixar o ponteiro do conta-giros atingir a faixa vermelha, pois isso pode trazer danos. “As relações de marcha que estão no manual do proprietário são uma referência segura”, diz Burin.
Entre os novos mitos está o que prega que, no inverno, os motores flexíveis devem ser abastecidos apenas com gasolina. Alfredo Castelli, diretor da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), explica que a capacidade de trabalhar com etanol não muda nos meses mais frios. Desde que haja gasolina dentro do reservatório para partida a frio.
“Quando a temperatura cai, o motor vai precisar da gasolina do ‘tanquinho’ para entrar em funcionamento”, lembra.
Na hora de ajustar os retrovisores externos, muitos foram ensinados a deixar a carroceria aparecer no canto do espelho. Uma lição errada que se perpetuou com o tempo, segundo Burin. “O motorista não pode enxergar o próprio carro, pois estará limitando seu ângulo de visão em relação a outros veículos.”
CHEIROS ESTRANHOS
E se o carro tiver odores desagradáveis, causados por mofo e umidade, por exemplo? Reza a lenda que deixar maçãs cortadas sobre os bancos elimina o mau cheiro.
Burin e Castelli afirmam que a “receita” não tem comprovação. “Talvez isso tenha surgido daquela prática de deixar um limão cortado dentro da geladeira, para tirar cheiros fortes. Mas isso se fazia há 50 anos”, diz Castelli.
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