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Zoeira entre compactos, Onix Effect e a temida nota zero

Semana agitada no segmento de compactos teve brincadeira entre as montadoras e um teste de impacto lateral que demoliu a imagem de um líder

Diego Ortiz

15 de mai, 2017 · 8 minutos de leitura.

Renault Kwid" >
Vídeo do Kwid brinca com o Up!
Crédito: Crédito: Renault

A publicidade de provocação, muito comum nos Estados Unidos, por exemplo, nunca foi muito bem aceita no Brasil. Somos passionais demais e torcemos para produtos ou marcas como fazemos com times de futebol, mas mesmo assim há algumas exceções. No mundo automotivo tupiniquim este tipo de linguagem teve seu ápice recente nos Pôneis Malditos da Nissan, alvo até de investigação do Conar. Tudo bem que não foi pelas provocações, mas sim pela palavra maldito relacionada a um personagem infantil como o pônei, uma imbecilidade. Mas as outras marcas ficaram zangadas na mesma proporção em que o anúncio ganhava destaque.

Agora a Renault bebe da mesma fonte em sua campanha para salientar o espaço interno e altura em relação ao solo do Kwid perante o Volkswagen Up!. Com um humor menos ácido e mais “zoeiro”, a francesa aposta nisso para chamar a atenção das pessoas para o seu novo SUV compacto (segundo o Inmetro) que na verdade é um hatch (segundo eu mesmo). O contra-ataque da VW veio na persona do humorista Rafinha Bastos, perfeito para o papel por sua conhecida ironia e por seus 2 metros de altura (aliás, 1,99 metro, como ele mesmo explica no vídeo). Independentemente de quem ganhou a disputa midiática, se há uma coisa deve ser elevada aos céus em um compacto é o espaço interno.

Já tive um Celta de primeira geração e um reestilizado. Era um carro robusto e de uma simplicidade que cabia nas prestações que eu podia pagar. Mas ele era apertado. Demais. Com 1,80 metro eu mal cabia no espaço do motorista e meus ombros ficavam encostados na janela, sempre puxando minha blusa ao acionar os vidros. Porém, os carros da GM foram evoluindo para o Agile (eu disse evoluindo?) e agora para um best-seller que merece a liderança que tem. Estou falando do Onix.

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Estive por uma semana com a versão Effect do carro – que se mostra esportiva na retina e nada no pé – e fica fácil descobrir o motivo pelo qual o carro está no topo e parece que não vai sair tão cedo. Mal comparando, ele é uma espécie de Corolla em seu segmento. Não é excelente em nada, mas também não é ruim em nada, e desagradar, no mundo automotivo, vale muito mais estrelas que excitar.

O motor 1.4 Flex de até 106 cv e 13,9 mkgf com etanol exige um pouco mais de trocas de marcha em subidas e retomadas porque o torque só chega ao máximo aos 4.800 rpm, bem tarde. Mas no uso cotidiano, no anda e para do trânsito, suas respostas são decentes, não há sensação de falta de potência em nenhum momento e, cá entre nós, a a sexta marcha não chegará sequer perto de ser tocada.

As suspensões são boas para buracos e o eixo de torção traseiro garante bons instantes em curvas também. A impressão é a de que ele é até mais durinho que outros carros urbanos, aspecto que me agrada muito. Nunca suportei carros com a suspensão molenga, leia-se a última geração dos Fiat.


Já o espaço interno, vocativo desta avaliação, agrada muito. Há bom lugar para o motorista e carona, com a posição de dirigir bem central (nisso é o que ele menos lembra o Celta e seu volante diagonal) e atrás duas pessoas andam bem sem se sentirem aprisionadas numa caixa de mágico. Três padecem de muito calor humano.

O porta-malas de 280 litros está na média do segmento (Gol tem 285 litros e HB20 tem 300 litros). Mas aí eu lembro que o estepe que está lá dentro é de uso temporário, o que dá a certeza que sacrificaram o porta-malas em favor do espaço traseiro. Penso por alguns segundos se isso é um defeito, mas chego a conclusão que não. Meus amigos e família não andam no porta-malas e, se for para apertar alguém, prefiro que sejam as caixas de leite de arroz e os pães sem glúten da minha mulher.

A parte visual desta versão Effect também é bacaninha, bem mais na cor branca. Pintado de vermelho, os adesivos na frente e traseira e os laterais ficam um pouco apagados, assim como o teto pintado de preto. Os detalhes em vermelho no interior são legais de dia, mas esquecíveis, na contramão do belo desenho dos bancos com acabamento em vinil e tecido.


E assim seguia o Onix, o líder, o todo poderoso, criando uma bela imagem, até que chegou o Latin NCAP com seu teste de impacto lateral e booom, nota zero. Zero é muito. Mesmo que fosse um teste de beira de esquina, é impossível negar a gravidade de um zero. Não dá ainda para medir o quanto esse tsunami de repercussões negativas vai arrastar de possíveis compradores de Onix para outras lojas. Como alento para a GM, no entanto, serve o tempo. Explica-se: o que vai ter de carro compacto brasileiro tomando nota zero e no teste de de impacto lateral do Latin NCAP não está no gibi.

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