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O novo normal dos carros 0KM está caro demais?

Vários fatores contribuem para o preço elevado dos automóveis vendidos no Brasil. Mas outros gastos também atrapalham na hora de ter um 0Km na garagem

Diego Ortiz

06 de out, 2020 · 5 minutos de leitura.

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VW Gol é, disparado, o modelo mais vendido do Brasil no mercado de usados e seminovos
Crédito: Volkswagen/Divulgação

O ano de 1994 foi muito especial. Além do tetra da seleção, eu vi pela primeira vez alguém do meu convívio comprar um carro 0KM. Era um Volkswagen “bolinha”, segunda geração do ícone da marca, que deixava de ter aquele visual quadradinho visto pela primeira vez em 1980. Lembro com se fosse hoje o cheiro do carro de fábrica, o plástico novinho brilhando no painel, e a total ausência de equipamentos modernos ou até triviais como direção hidráulica. Era o famoso carro popular raiz.

O Gol citado custava em 1994 exatos R$ 7.243. E o salário mínimo da época era de R$ 70 (isso mesmo, setenta reais). Portanto, para comprar um modelo novinho assim, era preciso desembolsar 104 vezes um salário mínimo na concessionária. E o modelo era um Gol 1000 “pelado”. Hoje, o Chevrolet Onix, líder do mercado como o Gol era, sai por iniciais R$ 58.590.

É preciso deixar na loja 58 vezes um salário mínimo atual. Bem menos que em 94. Está achando o carro 0KM caro? Você tem razão. Mas já foi pior. Porém, hoje acontece um fenômeno interessante. Eu continuo conhecendo a pessoa que comprou o Gol bolinha zero. E ela tem um carro usado de R$ 35 mil. E não teria condições hoje de comprar um modelo novo de R$ 60 mil.

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O que houve com o poder de compra do Brasileiro nesse período, então? Eu falei com alguns especialistas que apontaram fatores variados, todos muito interessantes. Muitos trabalhadores há tempos não têm aumento real de salário, apenas correções de inflação. Isso corrói as finanças familiares e vai deixando o padrão de vida inferior.

Fora isso, há vários gastos adicionais que a tecnologia nos brindou. Todas coisas legais, mas que custam caro na ponta do lápis. A parcela do celular (de mais de R$ 2 mil, via de regra para esta faixa de compra), o plano de internet para casa e para o celular, o Netflix, os pedidos de iFood, gasolina mais cara…

Some só estes valores que acabei de citar, e que não faziam parte da vida do brasileiro em 1994, que você verá que, com o mesmo salário, daria para dobrar a parcela do carro. E é exatamente assim que uma compra de R$ 35 mil vira R$ 60 mil. Dá para lutar contra isso? Não.


Os carros do novo normal automotivo estão cada vez mais tecnológicos, muito em função da exigência dos clientes. Ha leis que obrigam a instalação de equipamentos de segurança de fábrica que não existiam antes. O dólar não dá o menor sinal de que vá baixar significativamente nos próximos anos, e nem os salários vão aumentar. Muito pelo contrário. Os níveis de desemprego batem recordes devido à pandemia e mesmo antes.

Em 2020 e por um tempo, o carro popular mesmo, no sentido original da palavra, vai continuar sendo o usado com cinco anos de uso, pouco rodado, com financiamento facilitado, bem equipado e supimpa (para usar uma gíria comum há 26 anos).

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