Quando os pais estão ocupados demais, tarefas como cuidar dos filhos e até mesmo educá-los muitas vezes acabam sendo assumidas por babás. O Rover 100 desta reportagem tem uma vida parecida. Como o proprietário não tem muito tempo para ele, é o mecânico Clovis Antônio de Souza que cuida do sedã e até o leva para passear.
Souza é dono de uma oficina especializada em antigos na região central da capital, onde o aristocrático modelo inglês de 1960 recebe todos os cuidados. “Este carro é tratado como um bebê”, afirma.
O Rover foi adquirido há dois anos por R$ 120 mil. Após rodar 80 mil milhas (129 mil km), o carro ostenta integridade em detalhes como o manual do proprietário e a placa de identificação. A original, inglesa, convive com a atual, expedida no Brasil.
“Quando ele chegou, estava com as portas onduladas. Era coisa leve, mas deixava a aparência feia, então fizemos os retoques necessários”, diz Souza.
Para facilitar a vida do mecânico, o carro foi entregue com um estoque de peças sobressalentes amealhadas pelo proprietário anterior, como alavanca de câmbio, distribuidor e bomba de combustível.
“Mas ele não dá problema. Mesmo quando passo alguns dias sem ligar o motor, ele dá a partida normalmente”, conta. “Nesse período, só tive de substituir as válvulas do cabeçote.”
Alarde. A ausência de itens de conforto presentes em modelos mais modernos é sentida em algumas situações. “A falta de ar-condicionado incomoda no verão e a direção mecânica é pesada em manobras”, enumera Souza. “Por outro lado, o carro é muito silencioso e gostoso de dirigir. É tão macio quanto o meu Jaguar 2001.”
Raro nas ruas brasileiras, o modelo garante quinze minutos de fama para quem o dirige. Souza sentiu isso na pele quando estacionou o sedã em um café na Vila Madalena, na zona oeste. “Quase não consegui tomar meu café, tantas eram as perguntas que me faziam. As pessoas se encantam com o visual do carro e ficam surpresas quando notam o volante do lado direito.”
Esse detalhe típico dos carros ingleses exige alguns cuidados práticos. “Quando levo minha namorada no carro, peço para ela jamais atender ao celular”, diz Souza. “Como a passageira viaja do lado esquerdo, algum guarda desavisado pode acabar lavrando uma multa, pensando que se trata do motorista falando ao telefone.”