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Carro popular poderá descartar o básico: ar, vidros, travas e espelhos elétricos
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Carro popular poderá descartar o básico: ar, vidros, travas e espelhos elétricos

Para baixar preço do carro 0-km no Brasil, montadoras terão de excluir alguns itens, mas até onde isso é possível? Especialistas explicam

Vagner Aquino, especial para o Jornal do Carro

19 de mai, 2023 · 7 minutos de leitura.

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Fiat Mobi sobe posição e ultrapassa Hyundai HB20
Crédito:Fiat/Divulgação

Crédito difícil, falta de chips, fábricas paradas e vários eventos fizeram os preços dos carros novos decolarem no Brasil. Essa alta distanciou o brasileiro do sonho de comprar o automóvel 0-km. O cenário naturalmente derrubou as vendas de veículos no País. E o governo federal tenta promover a volta do chamado “carro popular“, com preço de R$ 50 mil. Atualmente, os modelos mais baratos – Fiat Mobi e Renault Kwid – custam perto de R$ 70 mil.

Mas será que o plano do governo Lula – com anúncio marcado para o dia 25 de maio – é viável? O Jornal do Carro consultou especialistas do setor automotivo para entender como as montadoras podem baratear os modelos atuais. Afinal, será possível baixar os preços?



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Rodolfo BUHRER/Renault

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De acordo com Paulo Garbossa, consultor da ADK Automotive, a resposta é “não”. E o motivo é simples: “hoje não dá para baratear (os automóveis). O motor, por exemplo, precisa ter uma série de soluções para economia e redução de emissões, como injeção direta de combustível, por exemplo. Tem os airbags e o ABS. Aliás, não se trata de opção, mas de lei”, lembra Garbossa.

“Pé-de-boi”

Por outro lado, Garbossa ressalta que “não adianta tirar todos os equipamentos do carro para reduzir custos, afinal, ninguém vai querer comprar o carro pelado”. Na visão do especialista, o consumidor se recusa a, por exemplo, comprar um veículo sem ar-condicionado e direção elétrica. Ou travar o carro na chave (sem alarme) ou descer e subir os vidros na manivela. “Lá atrás, a Volkswagen resolveu baixar custo com o Fusca ‘pé-de-boi’, que tinha soluções como para-choque pintado e porta-luvas sem tampa. Mas, hoje, o consumidor não aceita esse tipo de solução”.

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Volkswagen/Divulgação

Para ele, “Não existe fórmula mágica”. Desse modo, Garbossa defende que a única saída é “todo mundo dar a sua parcela de contribuição”. Trocando em miúdos, para que o carro volte a ser mais barato, precisa haver cortes de todos os lados. Assim, tanto o governo precisa cortar imposto quanto as montadoras têm de cortar os lucros.

Sem comentários

Recentemente, a Fenabrave, associação que reúne as concessionárias de veículos no País, demonstrou total apoio aos debates sobre o novo carro popular em um curso do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Entretanto, nem a Fenabrave, nem a Anfavea, associação das montadoras, e nem mesmo as fabricantes comentam o assunto. O grupo Stellantis (dono de Citroën, Fiat, Jeep e Peugeot, por exemplo) disse ao Jornal do Carro que não se posicionaria, afinal, o tema ainda não foi apresentado pelo governo.

De acordo com o documento entregue ao presidente Lula pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), além do carro mais barato, é necessário ter facilidade de compra. Assim, o estudo propõe linhas de crédito de 60 até 72 meses. Procurado pelo JC, o sindicato não enviou seu posicionamento sobre o tema até o fechamento da reportagem.


Nada de retrocesso!

O engenheiro Erwin Franieck, presidente do instituto SAE4Mobility, afirma que “um veículo sustentável, eficiente e seguro agrega uma série de sistemas obrigatórios e itens essenciais, como chapas de aço reforçados para crash test e outros componentes que, no mínimo, geram impacto superior a US$ 2.000 (R$ 9.900 na conversão direta) no custo do veículo. Acredito que não devemos retroceder em níveis de sustentabilidade e segurança já atingidos, mas evoluir os modelos de negócios”, pondera Franieck.

Já na visão de Fernando Trujillo, consultor da S&P Global Mobility, “o jeito mais fácil de baixar preço é a desoneração de imposto”. “É tirar taxa. O governo precisa abrir mão da sua parte, porque só pela montadora, seria bem complexo”, opina.

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Valeria Gonçalvez/Estadão

Seminovo completo ou zero pelado?

Trujillo aponta que o caminho das fabricantes consiste em tirar conteúdo dos carros. “Mas acho difícil um veículo desse, por mais barato que seja, ter muito volume. O consumidor, afinal, vai preferir um seminovo completo a um carro 0-km popular e pelado”.

De acordo com ele, a redução de custo exigira retirar conteúdos de segurança, conectividade, telas digitais, comandos elétricos para vidros e por aí vai. “Não tem para onde fugir. A não ser que o governo abra mão de impostos, como IPI, ICMS, PIS/Cofins. Com alíquotas menores, faz mais sentido. Assim consegue manter o conteúdo do veículo, mas com preço menor. Entretanto, não sei se chega na casa dos US$ 8.000 que o governo está querendo”, enfatiza.

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Carros elétricos são mais seguros do que automóveis a combustão?

Alguns recursos podem reduzir o risco de incêndio e aumentar a estabilidade

26 de abr, 2024 · 2 minutos de leitura.

Uma pergunta recorrente quando se fala em carro elétrico é se ele é mais ou menos seguro que um veículo com motor a combustão. “Os dois modelos são bastante confiáveis”, diz Fábio Delatore, professor de Engenharia Elétrica da Fundação Educacional Inaciana (FEI). 

No entanto, há um aspecto que pesa a favor do automóvel com tecnologia elétrica. Segundo relatório da National Highway Traffic Safety Administration (ou Administração Nacional de Segurança Rodoviária), dos Estados Unidos, os veículos elétricos são 11 vezes menos propensos a pegar fogo do que os carros movidos a gasolina.

Dados coletados entre 2011 e 2020 mostram que, proporcionalmente, apenas 1,2% dos incêndios atingiram veículos elétricos. Isso acontece por vários motivos. Em primeiro lugar, porque não possuem tanque de combustível. As baterias de íon de lítio têm menos risco de pegar fogo.

Centro de gravidade

Segundo Delatore, os carros elétricos recebem uma série de reforços na estrutura para garantir maior segurança. Um exemplo são os dispositivos de proteção contra sobrecarga e curto-circuito das baterias, que cortam a energia imediatamente ao detectar uma avaria.

Além disso, as baterias são instaladas em uma área isolada, com sistema de ventilação, embaixo do carro. Assim, o centro de gravidade fica mais baixo, aumentando a estabilidade e diminuindo o risco de capotamento. 

E não é só isso. “Os elétricos apresentam respostas mais rápidas em comparação aos automóveis convencionais. Isso facilita o controle em situações de emergência”, diz Delatore.

Altamente tecnológicos, os veículos movidos a bateria também possuem uma série de itens de segurança presentes nos de motor a combustão. Veja os principais:

– Frenagem automática de emergência: recurso que detecta objetos na frente do carro e aplica os freios automaticamente para evitar colisão.

– Aviso de saída de faixa: detecta quando o carro está saindo da faixa involuntariamente e emite um alerta para o motorista.

– Controle de cruzeiro adaptativo: mantém o automóvel a uma distância segura do carro à frente e ajusta automaticamente a velocidade para evitar batidas.

– Monitoramento de ponto cego: pode detectar objetos nos pontos cegos do carro e emitir uma advertência para o condutor tomar cuidado.

– Visão noturna: melhora a visibilidade do motorista em condições de pouca iluminação nas vias.