Placa Amarela

O primeiro MP Lafer

MGT 1972 de colecionador é o protótipo que deu vida ao modelo

Roberto Bascchera

07 de mai, 2016 · 8 minutos de leitura.

O primeiro MP Lafer
Crédito: MGT 1972 de colecionador é o protótipo que deu vida ao modelo

 

O MGT: beleza e elegância

O colecionador Airton Fernandes tem muitas raridades em sua garagem, de diversos anos, procedências e nacionalidades. A maior parte dos carros antigos foi adquirida como investimento, e, por isso mesmo, pode ser vendida a qualquer momento. Mas de uma de suas joias ele não se desfaz: o MGT 1972 – ou MP Lafer número um, protótipo que serviu de base para a uma série que fez sucesso no Brasil e foi exportada para a Europa.

 

Publicidade


Carroceria bege e capota bordô formam um belo conjunto

Se todo carro antigo tem história, o MP de Fernandes tem várias. O modelo foi criado por Percival Lafer, arquiteto, designer e empresário que em abril completou 80 anos de idade. No início dos anos 70, Lafer era conhecido pela sua bem-sucedida fábrica de móveis, mas criava, e fabricava, em outras áreas. É seu, por exemplo, o projeto e construção do orelhão, estrutura em fibra de vidro que servia de abrigo para telefones públicos nas grandes cidades.

 

Como sua indústria trabalhava com tapeçaria, fibra de vidro e estruturas metálicas, surgiu a ideia de se fabricar um automóvel. Entre o plano e o protótipo apresentado, o trabalho envolveu muitas etapas. E escolhas. A principal delas: qual modelo fabricar? A resposta surgiu dentro da própria fábrica. Um dos funcionários da empresa possuía um esportivo inglês MG-TD 1952, carro de linhas clássicas e que chamava muita atenção por onde passava. Esse foi o eleito.


 

Desmontado, o veículo inglês serviu de base para o molde em fibra de vidro do futuro MGT 1972, denominação inicial do carro que, posteriormente, se tornaria o MP Lafer. A base mecânica escolhida foi a do Fusca, um conjunto já consagrado na época por ser simples, versátil e confiável.

 


Adaptações, obviamente, foram necessárias. O MG original tinha motor dianteiro, arrefecido a água, e tração traseira. O conjunto do Fusca era o inverso: propulsor traseiro, refrigerado a ar. Facilitou o projeto, no entanto, o fato de a distância entre eixos ser praticamente a mesma. Assim, com adaptações em itens como posição dos pedais e da alavanca de câmbio, o protótipo pôde ser montado.

 

Após meses de trabalho em ritmo acelerado, o carro, ainda com diversas soluções provisórias, foi apresentado no Salão do Automóvel de 1972 como MGT 1973, e chamou atenção. Como o projeto ainda não tinha previsão de escala industrial, não foram aceitas encomendas. A fabricação propriamente dita começaria apenas no primeiro semestre de 1974, em São Bernardo do Campo (SP).


Tapeçaria bordô: capricho

No protótipo, a mecânica era basicamente a do Fuscão da época, com motor 1500 refrigerado a ar, de 52 cv, e carburação simples. O radiador de água à frente do MG inglês virou tanque de gasolina no MGT. E o nicho do motor, também na dianteira, porta-malas. Na réplica brasileira, faróis, piscas e lanternas eram os mesmos do MG, assim como as maçanetas das portas do tipo “suicida”. O painel de instrumentos era simples, com velocímetro, conta-giros e marcador gasolina. O volante Panther, de madeira, foi o escolhido para começar e o porta-luvas ainda não tinha tampa. Os para-choques eram tubulares e a capota, listrada.

 

O protótipo no Salão do Automóvel de 1972, em rara foto do Acervo do Estadão

Como se vê, não faltava improviso nesse primeiro carro. E muitos itens originais já haviam se perdido quando Fernandes, há seis anos, comprou o carro que servia como uma espécie de bugue em um condomínio no litoral. “Foram dois anos de restauração, e nesse período resolvi modificar alguns itens, como tapeçaria, pintura e para-choques”, explica. “Mas as características originais foram todas mantidas.”


 

O painel: simples nessa primeira versão

 

A cor escolhida para a carroceria foi o bege, que formou belo conjunto com o interior e a capota bordô. Faróis, lanternas, piscas e maçanetas são ingleses. Os para-choques escolhidos para o renascimento foram o de lâmina única, como os que equiparam os MPs de gerações posteriores, “filhotes” do MGT. O radiador-tanque, cromado, foi feito artesanalmente. As rodas originais de magnésio da época, Scorro, de 15 polegadas, ainda existem e estão guardadas, mas foram substituídas por peças de liga leve. Os instrumentos do painel são originais – Fernandes adaptou apenas uma tampa de carpete no porta-lubas, para esconder o CD player que mandou instalar no nicho.


 

Lanterna traseira: do MG inglês

 

O grande charme do carro, que teve cerca de 4,3 mil unidades produzidas entre 1974 e 1990, é original, único e dita o valor do MGT: a plaqueta “protótipo”, instalada em 1972 na dianteira do veículo. É a cereja do bolo do histórico MGT.


A plaqueta: cereja do bolo

 

Newsletter Jornal do Carro - Estadão

Receba atualizações, reviews e notícias do diretamente no seu e-mail.

Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de privacidade de dados do Estadão e que os dados sejam utilizados para ações de marketing de anunciantes e o Jornal do Carro, conforme os termos de privacidade e proteção de dados.