Primeira Classe

‘Roma’ mostra que carrão é um perrengue

Ford Galaxie, o carrão do filme, acaba se tornando um estorvo

Rafaela Borges

25 de fev, 2019 · 10 minutos de leitura.

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Momento chave
Crédito: Fusca vai embora e Galaxie fica (Foto: Reprodução)

Um pouco antes da cerimônia do Oscar 2019, neste domingo (24), decidi finalmente assistir ‘Roma’, de Alfonso Cuarón. E o filme que esteve entre os mais premiados do evento corroborou uma ideia que já me acompanha há anos: carrão não serve para quase nada. Na verdade, é um grande perrengue.

E quando digo carrão, não estou falando apenas de carros de luxos. É mais sobre carros grandes – sejam eles luxuosos ou não.

É claro que este não é o tema central de “Roma” – que faturou os prêmios de filme estrangeiro, direção e fotografia, e foi indicado a outros seis. A personagem Cleo (Yalitza Aparicio) é o centro da trama.

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Porém, os carros são importantes símbolos de ruptura e novas fases no núcleo familiar de ‘Roma’. E o carrão, um Ford Galaxie, tem papel importantíssimo no longa de Cuarón.

Alerta: a partir daqui, há spoilers. Se você ainda não viu o filme e pretende assisti-lo (está no Netflix), melhor parar de ler agora – mas prometo não divulgar toda a trama, mesmo assim.

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Galaxie, o carrão

Na primeira vez que Antonio (Fernando Grediaga), patrão de Cleo, aparece na trama, ele está fazendo um “malabarismo” para conseguir encaixar o Ford Galaxie, o carrão da família, na apertada garagem de sua casa de classe média na Cidade do México. É um verdadeiro malabarismo.

Enquanto Antonio faz as manobras, a família toda assiste, e Cleo segura o cachorro da casa para que ele não fuja. É um processo complexo.

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A família tem um segundo carro, um Fusca. E é simbólica a cena em que Sofia (Marina de Tavira, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante) está desolada na rua do bairro de Roma, onde fica sua casa e que dá nome ao filme, observando o marido Antonio partir (para uma suposta viagem rápida ao Canadá).

Antonio vai no Fusca, e deixa para trás o Galaxie. O carrão, que antes era status e ostentação, passa a representar complicações, e se torna um fardo. Ele abandona o fardo, e faz isso ao volante de um modelo menor.

Para Sofia, restam as complicações de uma vida diferente. Resta o Ford Galaxie.


A vez do Renault

Sofia passa muito tempo lamentando uma grande mudança em sua vida. Porém, de repente, decide resolver seus problemas, e deixar para trás as complicações.

Ela vende o Galaxie, e o troca por um Renault 12. Deixa de lado a ostentação e o status de uma família bem estruturada econômica e emocionalmente. Afinal, essa não é mais sua realidade, e ela a assume de vez.

Ela opta pelo Renault 12 porque quer um carro mais barato, e também algo que caiba em sua garagem sem necessidade de grandes manobras. Em uma cena, Sofia, sem paciência, bate o Galaxie diversas vezes.


A era da ostentação chega ao fim sem contudo prejudicar o conforto da família. O Galaxie era carrão de luxo. O Renault 12 não é, mas serve bem o propósito de transportar seus filhos – e são quatro.

Sofia ainda faz uma última viagem com o Galaxie, antes da despedida. Lá, anuncia uma mudança drástica em sua vida. Mudança que começa com o Renault 12.

A simbologia do carrão

O Ford Galaxie, no filme, é mais que um meio de levar toda a família, como o Renault 12 deixa claro posteriormente. O carrão é também um símbolo de status e sucesso.


Quando o conceito tradicional de família chega ao fim, e a satisfação pessoal passa a ser mais importante que o sucesso familiar, o carrão se torna apenas um estorvo. Ele passa a não ter função importante nenhuma, além de atrapalhar.

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Avance para os dias atuais – “Roma” se passa nos anos de 1971 e 1972. De que vale um carro grande nas grandes cidades? Cada vez mais, a classe média quer modelos de sete lugares.

No entanto, esses modelos atendem muito mais o propósito de uma viagem familiar em famílias com três filhos. No dia a dia, eles só atrapalham.

Afinal, as vagas nas ruas são raras. Dificilmente, você conseguirá parar nelas um carro grande. Em condomínios, shoppings, academias, supermercados, elas estão cada vez mais apertadas.


Não tenho nada contra os carros de luxo. Muito pelo contrário. Gosta deles, principalmente quando o assunto é dirigibilidade e tecnologia. Mas se tivesse de escolher entre um Série 1 e um Série 3, por exemplo, não pensaria duas vezes antes de optar pelo primeiro. Porque para mim menos é mais, mesmo no luxo. Já quando o assunto é ostentação, a história é outra.

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Quem aí aposta que o carro elétrico é a resposta para a mobilidade do futuro? O mais vendido do mundo é o Nissan Leaf, e ele está chegando ao Brasil. Preço: 178.400 reais #nissan #leaf #carroeletrico #interlagos #car #carro #instacar #instadaily #saopaulo #sp

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Os carros do filme

O carrão é um modelo 1970. O Ford Galaxie 500 é da versão Sportsroof e tem duas portas. Quanto às dimensões, são mais de 2 metros de largura e nada menos que 5,42 metros de comprimento. Seu motor V8 gera 255 cv.

Mais que no Brasil, o Fusca foi um grande símbolo no México. O modelo passou a ser feito lá em 1967. O último Fusca, já a segunda versão da moderna releitura, também foi feito por lá – e saiu de linha recentemente.


Em “Roma”, o Fusca aparece pouco – apenas no primeiro terço do filme. O exemplar é preliminar aos fabricados no México. Trata-se de uma unidade 1960 importada da Alemanha.

O Renault 12 foi produzido no México por uma parceria da Renault, a Dina. O modelo é do início dos anos 70.

A família tinha também um desgastado Valiant, o carro guiado pelo motorista para buscar e levar as crianças na escola, entre outros serviços.


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