Primeira Classe

Uma briga feia entre BMW e Volkswagen

Batalha entre BMW e VW é um dos capítulos mais interessantes da história do automóvel

Rafaela Borges

08 de fev, 2019 · 7 minutos de leitura.

Rolls Royce BMW Volkswagen símbolos" >
Disputa
Crédito: Símbolo "Spirit of Ecstasy" ficou com a Voks e "RR" com a BMW (Foto: Eric Gaillard/Reuters)

O caso que vou contar para vocês tem muitas artimanhas, reviravoltas, e é um dos capítulos mais interessantes da história da indústria automobilística. Eu o ouvi cinco anos atrás, ao visitar o museu da BMW, em Munique.

O guia do museu me contou essa história, no momento em que visitávamos a área reservada à Rolls-Royce no local. A marca britânica de alto luxo, assim como a Mini, faz parte do Grupo BMW.

LEIA TAMBÉM

Publicidade


Vocês sabiam que a Rolls-Royce desencadeou uma briga feia entre duas montadoras alemãs, a BMW e a Volkswagen?

Para adquirir a Rolls-Royce, a BMW travou uma guerra de bastidores contra a toda-poderosa Volkswagen. E, claro, para espanto geral, ganhou.

Veja também: Os carros mais caros vendidos em leilões


O início da briga

Essa história começa em 1998, quando a Volkswagen comprou a Rolls-Royce. Isso mesmo: foi a gigante alemã que adquiriu a marca de luxo inglesa.

A BMW, porém, não aceitou a compra. Aí você pode dizer: “problema dela”. Mas a verdade é que isso acabou virando um problema, dos grandes, para a Volks.

A marca de luxo tinha a preferência para a compra da Rolls-Royce, para a qual fornecia motores. E também da Bentley. As duas montadoras inglesas faziam parte do mesmo grupo automotivo desde o início do século XX.


E a BMW decidiu que queria comprá-las. Assim, ofereceu à então dona da Rolls e da Bentley, a Vickers, 340 milhões de libras.

LEIA TAMBÉM

Aí é que entra a Volkswagen. A empresa conseguiu obter informações privilegiadas sobre a proposta da BMW, e decidiu que levaria a melhor, pois também queria a Rolls para chamar de sua. Então, ofereceu à Vickers 430 milhões de libras.


Com isso, levou a Rolls-Royce e a Bentley, a fábrica de Crewe, na Inglaterra, e todas as plataformas e linhas de produção. Ficou também o símbolo “Spirit of Ecstasy”, um dos mais emblemáticos da indústria automotiva, colocado sobre o capô dos modelos da Rolls.

Veja também: os IPVAs mais caros de 2019

A vez da BMW

A marca de luxo alemã não deixou por menos. Desde a década de 70 do século passado, as operações de aviação (fabricante de motores) e automotiva eram empresas separadas dentro da Rolls-Royce.

Tanto o nome Rolls-Royce quanto o símbolo “RR” pertenciam à empresa de aviação. Ciente disso, a BMW, que era parceira dessa companhia também, conseguiu comprar o nome e o símbolo por apenas 40 milhões de libras.


Assim, a Volkswagen ficaria com as duas montadoras (Rolls-Royce e Bentley), mas não poderia usar nem o nome nem o símbolo “RR” da primeira. Além disso, a BMW ameaçou não mais fornecer motores para os carros das marcas – na época, a VW não tinha propulsores para os modelos das montadoras de alto luxo.

A solução

Depois de muitos movimentos e picuinhas de bastidores, artimanhas, ameaças e reviravoltas, essa história até que terminou de uma maneira civilizada. Houve uma reunião entre as cúpulas das duas montadoras para resolver o impasse.

A Volkswagen ficou com o desejado símbolo “Spirit of Ecstasy”, as plataformas da Rolls-Royce, a fábrica de Crewe e a Bentley. Além disso, receberia por um longo período motores da BMW para equipar os carros de sua nova marca de luxo.


Com isso, pagou os 430 milhões e não levou o que realmente queria, a Rolls-Royce.

Já a BMW teve de construir uma nova fábrica (foi erguida em Goodwood, na Inglaterra) e criar plataformas inéditas para os novos Rolls-Royce. Ao menos, gastou apenas 40 milhões de libras, não os 340 milhões planejados inicialmente.

Alguns anos depois, a Volks passou a desenvolver motores para os Bentley – compartilhados com os de modelos da Audi. E entrou em acordo com a BMW que a Rolls-Royce pudesse voltar a usar o símbolo “Spirit of Ecstasy”.


Veja também: carros de polícia pelo mundo

Newsletter Jornal do Carro - Estadão

Receba atualizações, reviews e notícias do diretamente no seu e-mail.

Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de privacidade de dados do Estadão e que os dados sejam utilizados para ações de marketing de anunciantes e o Jornal do Carro, conforme os termos de privacidade e proteção de dados.
Jornal do Carro
Oficina Mobilidade

Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”