Primeira Classe

Sem automóveis de luxo, salões vão morrer

Montadoras premium ensaiam abandono em massa a salões automotivos pelo mundo

Rafaela Borges

10 de ago, 2018 · 9 minutos de leitura.

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Foto: Felipe Rau/Estadão

Imagine um salão de carros sem automóveis de luxo e superesportivos. Você teria vontade de ir a esse evento? Não são os carros de sonho que atraem o público, afinal de contas? Os veículos que a maioria não pode ter?

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Pois é, mas isso não é algo difícil de acontecer, viu. Não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, as fabricantes de automóveis de luxo estão ameaçando se retirar dos salões de carros.


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A Volvo é pioneira nesse sentido. A marca participa de pouquíssimos salões, e isso não é de hoje. Geralmente, privilegia o de Genebra, na Suíça. De vez em quando, vai à China.

Do Salão de São Paulo, a Volvo não participa faz tempo. O evento nacional, que terá edição este ano (em novembro), já perdeu também as marcas que têm maior apelo com o público: as de superesportivos.


Ferrari e Lamborghini há tempos não são presenças no evento. A Ferrari até esteve, há uns seis anos, no estande da Fiat, pois fazia parte do grupo FCA.

 

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Automóveis de luxo em Detroit

O Salão de Detroit ainda é o mais importante dos Estados Unidos. Porém, de 2008 para cá, ele vem perdendo importância diante do público e das montadoras.

Uma das razões é a crise pela qual passou a indústria automobilística americana. Com ela, a cadeia automotiva de Detroit entrou em colapso.


A outra razão é a CES, feira de tecnologia em Las Vegas. O evento vem ocorrendo uma semana antes de Detroit, em janeiro.

 

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E, como as palavras automotivas de ordem são carro autônomo, híbrido e conectado, algo que tem tudo a ver com alta tecnologia, as montadoras estão apostando em mostrar suas inovações na CES. Principalmente as fabricantes de automóveis de luxo.


Por isso, no início deste ano, a Mercedes-Benz anunciou que não vai participar da edição de 2019 do Salão de Detroit. Em seguida, a BMW fez anúncio semelhante.

Temendo um abandono em massa, a organização vai mudar a data do evento anual para junho afastando a concorrência com a CES. Isso ocorrerá a partir de 2020.

Com isso, o Salão de Detroit será próximo de outro grande evento automotivo norte-americano, a corrida de Fórmula Indy na cidade. A ideia é que ocorra interação entre os públicos – uma aposta feita também pelo Salão de São Paulo e o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1.


Assim, quem sabe BMW e Mercedes não retornem ao Salão de Detroit em 2020.

Razões do abandono

De acordo com fontes da indústria, vale cada vez menos a pena para as montadoras participarem de salões. O investimento é alto demais.

A Volkswagen (e todas as marcas do grupo) anunciou que não estará no Salão de Paris deste ano. O presidente da empresa chegou a afirmar que os salões de carros estão mortos.


Na verdade, me parece mais que o motivo do abandono é o Dieselgate (como ficou conhecida a fraude a testes de emissões cometida pela VW), que está gerando milhões em multas para a companhia. No ano que vem, quando o evento for realizado em sua casa, Frankfurt, na Alemanha, veremos se a Volkswagen realmente acredita que os salões estão mortos.

Para as fabricantes de automóveis de luxo, esse investimento vale ainda menos a pena. Como já disse, em minha opinião são elas que atraem o público aos salões.

Porém, são marcas de nicho, muito menores que as montadoras generalistas. Principalmente no Brasil, têm muito menos poder de fogo (leia-se capacidade de investimento) que as grandes fabricantes.


Ainda assim, o investimento para as marcas de automóveis de luxo é o mesmo que o aplicado pelas generalistas. Isso acaba gerando dúvidas sobre a participação em salões.

Perfil do público

Embora tenham poder de atração, as fabricantes de automóveis de luxo têm baixíssimo poder de vendas em salões de carros. A maior parte do público, bastante generalista, sonha com carros premium, mas não os compra.

É o consumidor que vai ao evento para ver esses veículos de perto e, na maioria dos casos, poder entrar dentro deles. Porém, não vão comprá-los.


A Volvo, por exemplo, aplica o investimento que faria nos salões na regata Ocean Race. Para a montadora, o público desse evento tem mais o perfil de compradores de modelos da marca que aquele que frequenta os salões.

Eventos exclusivos e segmentados, aliás, é algo defendido por muitos executivos de marcas de luxo – em detrimento dos salões.

Salões sem marcas premium

Há uma contrapartida, no entanto. Fontes da indústria afirmam que, sem as marcas de luxo, os salões poderiam sim sobreviver. Isso porque, de acordo com elas, muitos vão ao evento para poder ver diversos carros generalistas, comparar um com os outro e, assim, decidir qual comprar.


No dia a dia, não é tão fácil fazer isso. Afinal, em qual oportunidade você poderá ver todos os carros nos quais está interessado no mesmo local?

Esse é um raciocínio interessante, que faz sentido. Porém, eu ainda acho que, sem as fabricantes de automóveis de luxo e superesportivos, os salões perdem sua essência – e possivelmente boa parte de seu público.

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