A moda existe em todos os setores. Seja um estilo de roupa, uma cor de batom, um tipo de programa de TV ou mesmo um corte de cabelos, sempre tem quem puxe a fila e seja seguido pelos demais e, assim, forme tendência. No mundo automotivo não é diferente. E não estamos falando de estilo de carroceria – como os SUVs, por exemplo, que viraram febre mundo afora. A pauta aqui é o layout interno dos carros, que cada vez mais utilizam grandes telas no painel.
O Salão do Automóvel de Pequim, na China, está recheado de modelos com essas características. Chery, Omoda, BYD, GWM e praticamente todas as chinesas fazem uso deste recurso em seus lançamentos. O recém revelado Omoda 7, por exemplo, que tem inspiração no universo gamer e deve desembarcar no Brasil até 2026, é um SUV cupê que traz uma tela para a central multimídia de 15,6 polegadas que desliza pelo painel, podendo ficar centralizada ou em frente ao passageiro dianteiro, por exemplo.
E outras fabricantes vão além. A Wey, por exemplo, marca que pertence à GWM, apresentou o SUV 07, que chamou a atenção pelo interior, com uma tela gigante que pega de uma ponta a outra do painel. E não para por aí. A Neta – chinesa que chegará ao Brasil no segundo semestre deste ano – também oferece esse tipo de solução. O SUV L, por exemplo, se destaca pelo painel com duas telas de 15,6 polegadas cada, que operam como central multimídia para motorista e passageiro.
Será reversível?
Com a tendência de empurrar centrais multimídias gigantes goela abaixo do consumidor, poucas fabricantes ainda relutam em utilizar botões físicos para funcionalidades básicas, como a Toyota, por exemplo. A Hyundai também vem retirando algumas modernidades e dando espaço aos comandos físicos. O mesmo fez a Volkswagen que, recentemente, voltou atrás sobre o uso de botões touch screen no volante. A decisão foi tomada após ouvir o feedback de clientes que desejavam a volta das teclas físicas.
A BMW também não acredita que a moda dos iPads gigantes acoplados aos painéis dos carros dure por muito tempo. Embora hoje a marca faça uso de telas gigantes, como no sedã i7, por exemplo, durante a Consumer Electronics Show (CES) do ano passado, realizada em Las Vegas, nos Estados Unidos, o CEO da marca bávara, Oliver Zipse, disse que está absolutamente convencido de que as grandes telas instaladas na parte central dos painéis dos carros vão desaparecer em breve. “Em dez anos, isso acabou”.
O argumento, vale recordar, aconteceu em paralelo à apresentação do i Vision Dee Concept, que tem painel limpo e usa o head up display como principal fonte de informação ao condutor, uma vez que tudo é projetado no para-brisa. A previsão é que o sistema de projeção de informações em todo o para-brisa venha com os próximos carros da BMW, com a plataforma Neue Klasse, em meados da década.
Evolução
Lá no início do Século 20, o Ford Modelo T sequer tinha interior. Havia apenas os comandos indispensáveis para se dirigir, como volante e alavancas. Anos depois, quando os ocupantes do carro já não ficavam mais sujeitos ao frio e a chuva, começaram a aparecer os primeiros mimos. O VW Fusca alemão, por exemplo, oferecia um pequeno vaso no painel na versão 1954, época em que os carros já tinham mostrador de velocímetro, rádio e porta-luvas, por exemplo.
Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, a indústria norte-americana, desobrigada de produzir armamentos, investiu em luxo. Isso incluiu carrões confortáveis, como o Chevrolet Bel Air conversível de 1957, por exemplo, e o Pontiac Trans Am. Este último, priorizava o desenho interno voltado ao motorista e trazia diversos mostradores que evidenciavam a tendência esportiva do modelo.
Na história mais recente, os carros passaram a inovar com painéis modernos e quadro de instrumentos central, como oferecia a minivan Citroën Picasso. Nela, inclusive, a alavanca de câmbio ficava no próprio painel, a fim de liberar espaço entre os bancos.
Painel de dois andares
E foi no Honda Civic de oitava geração que o interior começou a ganhar ares futuristas. O painel em dois andares tinha velocímetro digital na parte de cima e conta-giros na parte de baixo. O volante pequeno e a alavanca de freio em formato de ‘Z’ reforçavam as características modernas.
Em 2012, a Volkswagen rompeu de vez com a tradição. Nessa época, o Fusca deixou para traz o papel de “carro do povo” e assumiu a identidade esportiva, não só pelo motor de Golf GTI (2.0 turbo), mas pelo interior cheio de instrumentos e tecnologia. Tinha até tela central.
Telas centrais, inclusive, passaram a dominar outras partes do painel já tem algum tempo. O Mercedes-Benz Classe E, por exemplo, permitia o acompanhamento das informações (seja sobre o carro, seja sobre o caminho) também pelos demais ocupantes do veículo e não só o motorista. Hoje, já tem carros que oferecem conexão à internet e que até dirigem sozinhos. Os próximos passos da indústria, resta aguardar.
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