Em fevereiro deste ano, o Jornal do Carro trouxe a notícia de que os novos Logan e Sandero estavam ameaçados no Brasil. Pois bem, em março, logo depois, a Renault anunciou um investimento de R$ 1,1 bilhão no País para renovar a gama nacional. Ou seja, Captur, Duster, Kwid, Oroch e, por fim, a dupla Logan e Sandero, que acaba de ser cancelada.
A Renault do Brasil naturalmente foi procurada e não vai comentar o assunto. Mas a ordem para cancelar os novos Logan e Sandero, bem como o aventureiro Stepway, veio da matriz na França. Diante do cenário ainda turvo por causa da pandemia, a cúpula da montadora vai seguir as orientações do CEO Luca de Meo, e apostar em novos SUVs.
Um deles inclusive está confirmado pelo próprio Luca de Meo: será o Bigster, utilitário esportivo maior que o Duster, que será lançado até 2023 na Europa pela Dacia. Com vendas menores que antes da pandemia, a Renault vai abandonar segmentos menos rentáveis, como o de compactos de entrada, e investir em modelos de maior valor agregado.
A meta da francesa, portanto, é ter 5% de rentabilidade até 2025 no Brasil. Assim, a Renault vai seguir os passos da norte-americana Ford, e focar no segmento de SUVs. E, dessa forma, Logan, Sandero e Stepway serão descontinuados nos próximos anos, deixando um legado de quase 15 anos. Afinal, o sedã Logan estreou em 2007 com produção nacional.
Nova estratégia
Conforme anunciou o CEO Luca de Meo, no começo deste ano, a estratégia da Renault vai mudar no Brasil. De acordo com o executivo, não haverá investimentos de curto prazo no País. Sem citar nomes, o CEO informou que redirecionaria o montante (que seria aplicado em modelos populares) em veículos mais lucrativos, como Duster e Bigster.
Para o chefe da Renault, houve um equívoco na estratégia para o Brasil, com a priorização da participação de mercado em detrimento das margens de lucro. Dessa forma, a empresa não vai mais buscar a fatia de 10% vislumbrada pelo antigo chefe, Carlos Ghosn. Na visão do atual CEO, 5% ou 6% bastam. Mas, para isso, a marca venderá carros mais caros.
Como é o Bigster?
Baseado na plataforma CMF-B da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, o futuro SUV de sete lugares vai apostar no tamanho para brigar por uma fatia do segmento mais disputado do momento, o de SUVs médios. Ou seja, o Bigster pretende disputar clientes com Jeep Compass, Toyota Corolla Cross e Volkswagen Taos. Porém, com preços competitivos.
Além de visual musculoso, um dos diferenciais do Bigster será a mecânica híbrida. O modelo, aliás, pretende popularizar o carro híbrido na Europa e, quem sabe, também no Brasil e região. Em vez de apostar no diesel ou em motores a gasolina, o Bigster combinará um motor elétrico ao 1.2 TCe turbo de 3-cilindros. Com esse conjunto, promete ser econômico.
SUV Kiger é opção ao Stepway
No início de 2021, a Renault apresentou um novo SUV compacto na Índia. Com 3,99 metros de comprimento, o Kiger é menor que o Duster. Trata-se do SUV do Kwid. O projeto foi feito a partir da plataforma alongada do subcompacto, chamada de CMF-A+. Dessa forma, o SUV pequeno pode ser um bom substituto do Stepway no Brasil.
Apesar de menor que SUVs compactos populares, como Honda HR-V, Hyundai Creta e Nissan Kicks, o Renault Kiger tem um porta-malas generoso de 405 litros, que fica próximo dos 430 litros (em média) do trio citado. Isso com um entre-eixos de 2,50 m, que equivale ao de um hatch compacto. Ou seja, em tamanho, é muito parecido com o Fiat Pulse.
Conflito interno
De acordo com a revista Quatro rodas, em apuração conjunta com o site Autos Segredos, o projeto das novas gerações de Logan e Sandero estava bem adiantado, com previsão de lançamento em 2022. Contudo, os modelos, que seriam baseados na plataforma CMF-B (de origem Dacia), não estavam aprovados pela matriz, na França.
Dessa forma, a fabricação da dupla não acontecerá no Brasil, nem na Colômbia e nem na Argentina. A princípio, a decisão da matriz vale pelos próximos três anos.
Até lá, a expectativa é de que a Renault mantenha as configurações de Logan e Sandero. O que pode mudar é a gama de versões. Hoje, o Sandero tem apenas motor 1.0. Já o sedã Logan tem opções 1.0 e 1.6 flexíveis. O motor maior também está disponível no hatch aventureiro Stepway. Já o Sandero R.S. usa o motor 2.0 aspirado.
Próximos passos
Por ora, a operação brasileira não receberá novos investimentos. Tudo ficará dentro do montante de R$ 1,1 bilhão, que já garantiu a renovação do Captur e o lançamento do motor 1.3 turbo. Esse valor também será usado na reestilização do Kwid, que terá o visual indiano, bem como na picape Oroch, cotada para chegar no início de 2022 com motor 1.3 turbo.
Atualmente, a rival da Fiat Toro está com produção paralisada no complexo industrial paranaense há três semanas. O retorno está previsto para esta quinta-feira (23).