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Carros elétricos na polícia serão capazes de ajudar no combate ao crime?
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Carros elétricos na polícia serão capazes de ajudar no combate ao crime?

Jornal do Carro buscou entender o que funciona e o que não funciona na incorporação de carros elétricos às frotas policiais, como o BYD D1 da Polícia Civil

Vagner Aquino, especial para o Jornal do Carro

09 de nov, 2022 · 9 minutos de leitura.

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BYD D1 tem motor elétrico de 130 cv e atinge até 130 km/h de velocidade máxima
Crédito:BYD/Divulgação

Treinamentos teóricos e técnicos estão em curso para capacitar o uso de novas viaturas elétricas pelas Polícias do Brasil. Mas será que os carros elétricos alimentados por baterias são eficientes para as corporações? Para começar, há redução de custos, por exemplo, com manutenção e combustível. Entretanto, os projetos pilotos que, por ora, são gratuitos para o Estado, também geram preocupação em aspectos operacionais.

No fim de outubro, a BYD cedeu o hatch elétrico D1 transformado em viatura à Polícia Civil do Estado de São Paulo. Pois o Jornal do Carro conversou com o órgão para entender se esse tipo de veículo é mesmo capaz de ajudar no combate ao crime.

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BYD/Divulgação

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“É um grande diferencial, e nem digo apenas pela questão ambiental dos carros elétricos, mas em termos de performance”, salienta Dr. Edson Minoru Nakamura, delegado da Divisão de Transportes da DAP em relação ao tema.

Prós

Em dados, o hatch fica aquém dos SUVs comumente usados pela Polícia Civil. Para comparação, o Chevrolet Trailblazer, por exemplo, tem motor 2.8 turbodiesel de 200 cv e 51 mkgf de torque. Já o BYD D1 tem motor elétrico de 130 cv de potência e 18,3 mkgf de torque. Mas é justamente este último dado que vem agradando as operações policiais.

“O desempenho é muito superior aos modelos a combustão. Não há necessidade de ganho de potência. O torque imediato é perfeito para a agilidade da viatura”, comemora Nakamura. O delegado, inclusive, afirmou que os testes têm sido “no geral, muito positivos, tanto no judiciário quanto no operacional (operações de captura e cerco, por exemplo), e têm sido bastante elogiados pelos profissionais”.


Cabe lembrar que, no ano passado, a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMSP) recebeu o reforço dos veículos elétricos BYD e5 e Nissan Leaf para testes.

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Nissan/Divulgação

Contras

Equipado com sirene, sinalizadores e LEDs estroboscópicos, por exemplo, o BYD D1 chegou à Polícia Civil junto com um carregador do tipo 2, de 7kW, para o recarregamento das baterias. Mas isso não parece suficiente, afinal, fica inviável para a Polícia perder tempo com recarga de baterias entre uma ocorrência e outra.


De acordo com a BYD, a autonomia do D1 (pacote de baterias Blade, com capacidade de 53 kWh) chega a 371 km. “Para operações policiais, um carro elétrico com cerca de 350 km de autonomia é inviável”, salienta Nakamura. Afinal, “além da limitação de alcance, a recarrega das baterias exige tempo”, completa.

A BYD informa que são necessários, no mínimo, 35 minutos para que o D1 recarregue entre 30% e 80% da bateria. Portanto, o processo exige estações de carga rápida.



Outros detalhes

De acordo com o relato de Nakamura, outro ponto é a altura do carro em relação ao solo. O modelo que estreou no mercado nacional em julho – com foco nas vendas diretas e nos motoristas de aplicativo – tem foco em uso urbano. Entretanto, o delegado conta que são comuns os impactos na parte de baixo do carro. “Caso o Governo, de fato, negocie a compra desse tipo de modelo para a frota da Polícia Civil, a marca prometeu mexer no ajuste da suspensão”, contou Nakamura. “Isso é essencial, pois temos demandas nos mais variados tipos de terrenos”, pondera.


Problemas também fora do Brasil

E não é só no Brasil que isso acontece. Só neste ano, reclamações das autoridades de polícia nos Estados Unidos e Europa sobre carros elétricos já vieram à tona. Afinal, modelos como o Tesla Model Y, por exemplo, não estavam dando conta do recado. De acordo com o Departamento de Polícia de Spokane, em Washington (EUA), as baterias não conseguiam acompanhar a alta demanda de uso do modelo.

O Reino Unido também registrou casos de viaturas elétricas que ficaram sem bateria e, assim, acabaram atrapalhando o combate ao crime. A confirmação foi feita, há alguns meses, por Chris Nelson, comissário de polícia do condado de Gloucester, à imprensa britânica. “Sei do apoio às causas climáticas, mas minha prioridade é combater o crime”, pondera.

Para ele, o uso de sirenes, rádios e toda a parafernália elétrica exigida pelas viaturas comprometem a autonomia dos veículos. Além disso, por mais que o país tenha boa infraestrutura, as áreas rurais – como no Brasil – sofrem com falta de carregadores.


Reprodução/Internet

Por isso, há um movimento contra a eletrificação completa da frota no Reino Unido. Cabe salientar que, no condado de Gloucester, aproximadamente 90 viaturas elétricas estão na linha de frente no combate ao crime. Os principais modelos são BMW i3 e Tesla Model 3.

Além de tudo, custa caro

E não é só isso. A conversão do carro elétrico em viatura é cara. Nos Estados Unidos, a tarefa não sai por menos de US$ 30 mil (quase R$ 155 mil, na conversão direta). Isso torna o feito praticamente inviável para o governo local.


No Reino Unido, nada muito diferente, afinal, o governo gastou cerca de 2,5 bilhões de libras esterlinas (R$ 14,8 bi) na conversão de modelos a combustão para elétricos. No Brasil, só o BYD D1 custa R$ 269.990. Se for contar toda a roupagem, passa de meio milhão de reais.

Conclusão

Para as autoridades, detalhes como a agilidade dos veículos elétricos e a questão ambiental contam pontos para o uso de viaturas movidas a baterias. Entretanto, vertentes como infraestrutura de recarga e a autonomia ainda precisam melhorar para que, de fato, ajudem no combate ao crime. Em síntese, com base em fatos, não é uma realidade imediata, nem no Brasil, nem mesmo no primeiro mundo.

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