A partir de 1º de janeiro de 2022, o Brasil terá regras mais rigorosas de emissões de poluentes nos carros. O Proconve L7, nova fase do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos, vai “baixar a régua” e exigir níveis menores de gases do escapamento – como monóxido de carbono e aldeídos. Bem como trará novos parâmetros, como a forma de medir hidrocarbonetos e as emissões evaporativas. Por isso, vários carros foram aposentados neste ano, incluindo veteranos de sucesso, como Fiat Uno e Volkswagen Fox.
Da mesma forma, alguns motores deixarão de ser feitos. Entre eles, o 1.6 8V EA111, da VW, e o 1.8 Etorq, da Stellantis, comumente usado por modelos da Fiat e da Jeep. As fabricantes terão até o dia 31 de março para faturar todos os veículos nos parâmetros antigos. Ou seja, aqueles equipados com conjuntos que já não cumprem os novos limites do Proconve L7.
O que muda com o Proconve L7
Para os motores, a nova fase do Proconve reduzirá os limites de gases emitidos pelo escape, assim como passará a considerar as emissões de hidrocarbonetos, aldeídos e do etanol, que serão adicionadas aos valores de NOx (óxido de Nitrogênio). Além disso, os catalisadores deverão ter o dobro da vida útil, passando de 80 mil para 160 mil quilômetros.
Há ainda outras mudanças que não afetam diretamente os motores, mas atingem projetos mais antigos. É o caso das emissões evaporativas, que consideram o vapor tóxico liberado pelo tanque de combustível. O limite vai baixar de 1,5 grama (obtida em teste em laboratório) para 0,5 g por dia. Assim, o filtro de carvão (cânister) precisará ter capacidade maior.
VW 1.6 EA111
Lançado no Brasil em 1996, o motor 1.6 litro da família EA111 é um clássico da Volkswagen por aqui. São 25 anos no mercado e várias aplicações no currículo. O 1.6 de quatro cilindros em linha e oito válvulas já equipou de Kombi a Golf, e sempre foi referência de boas respostas em baixos giros. Entretanto, com os novos limites de emissões, chegou o fim da linha.
Logo no início de 2022, a marca alemã vai retirá-lo dos populares Gol e Voyage, e da picape Saveiro, que ganhará o motor 1.6 MSI flex de 16 válvulas, da família EA211, com até 117 cv e 16,5 mkgf. Já o Fox, que saiu de linha em outubro, também usava o 1.6 8V de até 104 cv e 15,6 mkgf. Gol e Voyage seguirão vivos graças ao motor 1.0 MPI flex de três cilindros.
Com 12 válvulas, o 1.0 também é da família EA211. Ele estreou em meados de 2013 no Fox Bluemotion, depois foi parar no cofre do motor do Up!, outro que se despediu em 2021. Por fim, ganhou o restante da gama. Atualmente, o 1.0 3-cilindros de 82 cv e 10,4 mkgf equipa Gol, Voyage e Polo. E estará no Polo Track, sucessor do Gol que chega em 2023.
Stellantis 1.8 E.torq
Também com fama de entregar bom torque em baixas rotações, o motor 1.8 da família E.torq surgiu há 11 anos. O lançamento ocorreu dois anos após a Fiat comprar a fábrica da Tritec, em Campo Largo, no Paraná, onde é feito até hoje. Na época, equipou linha Palio, Linea e Punto, e, nos últimos anos, ganhou popularidade na picape Fiat Toro e no Jeep Renegade.
Pois a Stellantis prepara a aposentadoria do motor 1.8 E.torq em 2022. Ele deixará de equipar a Toro e o Renegade no início do ano. Depois, será substituído também nos compactos Argo e Cronos. Da gama antiga da Fiat, a Doblò está saindo de linha. Ou seja, logo não haverá mais modelos à venda com o motor E.torq. Em seu lugar, virão os novos motores turbo.
No caso do Renegade, a Jeep optou por instalar o 1.3 turbo flexível, que estreou na Toro e no novo Compass. Com quatro cilindros, 16 válvulas e duplo comando variável, gera 185 cv de potência com etanol e 180 cv com gasolina. Já o torque é de 27,5 mkgf a 1.750 rpm com ambos os combustíveis. O Jornal do Carro acelerou o novo Renegade 1.3 T270, que, se não estreou o motor, será o primeiro 1.3 turbo com tração 4×4.
De volta ao 1.8 E.torq, no desempenho, o seu substituto não é o 1.3 turbo, mas o 1.0 turbo de três cilindros e 8 válvulas. Ele foi lançado em outubro no SUV Fiat Pulse, e, em 2022, chegará ao hatch Argo e ao sedã Cronos nas versões topo de linha. Da mesma maneira, deverá equipar os compactos da PSA, como o novo Peugeot 208. As francesas também são Stellantis.
Renault F4R
Com a recente confirmação do fim do Sandero RS, é chegada a hora de aposentar o antigo 2.0 aspirado de quatro cilindros e 16 válvulas. Este motor já esteve em vários modelos da Renault. Mas, atualmente, equipa somente o “hot hatch”, com ajuste para gerar 150 cv, e a picape Duster Oroch, na qual entrega 148 cv de potência.
Só que a Renault vai lançar a nova Duster Oroch no início de 2022. Assim, além de alterações visuais, a principal mudança na picape será a troca do velho motor 2.0 aspirado pelo novo 1.3 turbo flexível que estreou no SUV Captur. Ele gera até 170 cv de potência e um torque de 27,5 mkgf com etanol, conectado a um câmbio automático CVT com 8 marchas.
Essa transmissão também vai aposentar outro componente jurássico na Oroch: o câmbio automático de quatro marchas. Dessa forma, a partir de 2022, não teremos mais modelos da marca com esse conjunto. O mesmo ocorrerá com o facelift do SUV Duster, que também será 1.3 turbo CVT. Mas o seu lançamento só deve acontecer em 2023.
Chevrolet 1.0 SPE/4
Com o início iminente do Proconve L7, a General Motors anunciou ajustes em seus modelos nacionais, com vistas a cumprir as novas regras. Entretanto, a marca não comentou que vai aposentar, em breve, os motores da chamada “Família 1”. Segundo reportagem do Auto Papo, ela surgiu em 1982 pelas mãos da Opel, com deslocamentos entre 1.0 e 1.8 litro.
No Brasil, o motor da Família 1 estreou em 1994 nas versões 1.0 e 1.4 litro, com a segunda geração do Chevrolet Corsa. Desde então, recebeu diversos aprimoramentos, mantendo-se até hoje competitivo. O 1.0 8V rende 80 cv e 9,8 mkgf de torque com etanol, além de 78 cv e 9,5 mkgf com gasolina. Porém, com os novos limites de emissões, não vão durar.
A GM ainda vende a antiga geração do Onix com o nome Joy Black e o motor 1.0 SPE/4, mas o modelo sairá de linha em 2022. O mesmo acontecerá com o Joy 1.4 exportado para a Argentina. Há ainda o 1.8 8V de até 111 cv que equipa a Chevrolet Spin. Entretanto, a própria marca já confirmou a nova geração da minivan sobre a plataforma do SUV Tracker.
Nos modelos feitos sobre a plataforma modular GEM, a Chevrolet tem motores mais modernos. O 1.0 naturalmente aspirado de três cilindros gera os mesmos 82 cv de potência máxima do SPE/4, mas o torque com etanol chega a 10,6 mkgf. Já o 1.0 turbo gera 116 cv e até 16,8 mkgf de torque conectado a câmbios manual ou automático de seis marchas. A GM tem ainda o 1.2 turbo de 132 cv e 19,4 kgfm de torque a 2.000 rpm.
Motor Fiat Fire
O fim do motor Fiat Fire, lançado no Brasil em 2000, já é esperado há algum tempo. Afinal, em 2016, a marca italiana apresentou os motores Firefly feitos em Betim (MG). Com concepção e recursos mais modernos, como, por exemplo, comando duplo variável, a nova família veio para, naturalmente, substituir a linha Fire. Mas ainda tinham veteranos em linha.
Isso vai mudar em 2022. De uma só vez, a Fiat acaba de aposentar um de seus ícones, o Uno, que também era um dos modelos da marca mais antigos em produção. Além dele, deixam de ser produzidos a multivan Doblò e o sedã Grand Siena. Assim, o motor Fire sairá de linha ao longo dos próximos meses, nas versões 1.0 flex e 1.4 flex, ambas com oito válvulas.
Atualmente, o 1.0 de quatro cilindros está disponível no Mobi e no Uno. Ele gera 77 cv de potência e 10,9 mkgf de torque com etanol. Já o 1.4 Fire rende até 81 cv de força e 12,4 mkgf de torque e equipa versões de entrada da Nova Fiat Strada, bem como o furgão Fiorino. Este motor será gradualmente substituído nesses modelos pelo mais moderno 1.3 Firefly flex.
Híbridos flex em 2025
A próxima etapa do Proconve (L8) começa a valer só em 2025. Neste ano, os novos limites chegarão a um nível em que os motores atuais não serão mais capazes de cumprir as regras. Eles precisarão de novas tecnologias que incluem a eletrificação. Por isso, os carros híbridos flex deverão se tornar protagonistas no Brasil a partir de 2025, sobretudo com o uso do etanol, que é um combustível de fonte renovável e menos poluente.