A pandemia da Covid-19 trouxe muitas mudanças para a indústria automobilística no Brasil, não apenas na forma de vender os carros, mas também nas estratégias de cada montadora. Nesse sentido, até o mês de abril, o mercado nacional já se despediu de oito modelos. E a lista de veteranos próximos do fim de linha continua extensa.
Com novas tecnologias chegando e a preferência pelos SUVs cada vez maior, vários modelos estão perto da aposentadoria. Alguns não trocam de geração há mais de uma década, caso dos populares Fiat Uno e Volkswagen Gol. Outros já saíram de linha no exterior. E há ainda os que vendem pouco ou quase nada, e serão substituídos ou terão a oferta encerrada.
Confira a seguir 16 carros que deverão sair de cena em 2021 no Brasil:
Chevrolet Joy e Joy Plus
Eles só foram rebatizados. Trata-se da dupla Onix e Prisma. Após a chegada da nova geração do hatch e do sedã Onix Plus, os modelos passaram a ser chamados de Joy e Joy Plus, respectivamente. É claro que a sobrevivência de ambos tem a ver com as vendas diretas. Ou seja, da montadora para frotistas, por exemplo. Contudo, com o passar do tempo, mesmo essa categoria passará a buscar pelos modelos renovados da Chevrolet.
O Joy, que é o velho Onix, completará 9 anos no fim de 2021. Desde outubro de 2012, recebeu somente um facelift, em 2016. Já o sedã Joy Plus está no mercado desde 2013 e também recebeu sua última atualização em 2016.
Embora tenham motores econômicos, os dois já zeraram nos testes de segurança da Latin NCAP. Faz pouco tempo, inclusive, o Ministério Público solicitou um “mega recall” de todas as unidades do hatch compacto emplacadas desde o fim de 2012.
- Preço do Joy: R$ 59.460, na versão única Black
- Preço do Joy Plus: R$ 63.830, na versão única Black
Chevrolet Cruze e Cruze Sport6
Como já sabemos, o mercado de carros mudou. E a busca por sedãs e hatches médios despencou. Assim, atingiu em cheio a dupla da Chevrolet, ainda que ambos sejam bons carros. O Cruze, que já chegou a vender mais de 39 mil unidades em 2012, terminou 2020 com apenas 8.802 emplacamentos. Seja como for, isso corresponde a 10% do segmento.
O caso do Cruze Sport6 é ainda mais crítico. Basicamente, ele é o único sobrevivente entre os hatches médios abaixo dos R$ 200 mil no Brasil. Ainda que nunca tenha caído no gosto do público, já chegou a emplacar cerca de 22 mil unidades, em 2013. Sete anos depois, ou seja, em 2020, apenas 3.181 modelos foram emplacados.
A questão é que o Cruze já se despediu de mercados como a China e os Estados Unidos. Assim, é vendido somente na América do Sul. Mas a procura pelos dois modelos ultimamente não se justifica nem mesmo na Argentina. Por isso, a GM já trabalha na atualização da fábrica no país, que poderá a produzir modelos mais modernos, como o novo Tracker.
- Preço do Cruze: a partir de R$ 118.290
- Preço do Cruze Sport6: a partir de R$ 118.290
Fiat Uno
Após quase quatro décadas no mercado, o emblemático carro de entrada da Fiat está com os dias contados. A marca italiana estava próxima de anunciar o fim do Uno, mas com a descontinuidade do Ka, ela achou que o hatch poderia ganhar uma sobrevida. O que não acontecerá.
De acordo com o jornalista Fernando Calmon, a fábrica de Betim encerrará a linha de produção do Uno, do Doblò e do Grand Siena no final deste ano. Recentemente, o Uno inclusive passou a ser vendido em versão única.
O triste fim do Uno ocorre em um momento em que as suas vendas são desanimadoras. Em 2020, 22.737 unidades do hatch compacto foram emplacadas, montante bem menor do que os dias de glória do popular. Para se ter uma ideia, quando o “Novo Uno” estreou em 2010, com um apelo mais jovem e urbano, suas vendas junto as do antigo Mille se aproximaram das 230 mil unidades. Tanto que, em 2014, superou o Volkswagen Gol.
Ainda que o Uno tenha boa saída para frotistas com as vendas diretas, o hatch precisaria se readequar às novas normas do Proconve L7, que entrará em vigor em 2022. Contudo, a Fiat não deverá investir para preparar seu veterano modelo para a mudança.
Preço do Fiat Uno: R$ 56.190
Fiat Doblò
Próximo de completar 20 anos no mercado, o Doblò finalmente será aposentado pela Fiat. Sua última reestilização ocorreu em 2009 e o modelo ainda ganhou uma nova geração europeia naquele mesmo ano. Sem mudança desde então, usa motor 1.8 E.Torq de até 132 cv e 18,9 kgfm, e câmbio manual de cinco marchas.
Assim como o Uno, sua vida é garantida por frotistas: das 3.342 unidades vendidas em 2020, 3.040 foram de vendas diretas. Um contraste com dez anos atrás, quando mais de 13 mil unidades foram emplacadas.
De quebra, o preço não é um atrativo. O furgão parte de R$ 111.990 na versão regular, e de R$ 100.490 na versão Cargo. Essa faixa de preço é a mesma de SUVs como Jeep Renegade, VW T-Cross e Nissan Kicks.
Fiat Grand Siena
O Grand Siena encerra o “trio” da Fiat que vive graças à vendas diretas. Contudo, a somatória de licenciamentos do sedã ainda é expressiva. A segunda geração do três volumes derivado do Palio somou 10.857 unidades emplacadas em 2020, número mais alto do que as vendas do Nissan Versa, por exemplo. Entretanto, em bons tempos, especificamente em 2014, o Grand Siena ultrapassou as 106 mil unidades comercializadas.
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Inscreva-seDono de um dos maiores porta-malas da categoria e único a oferecer preparação de fábrica para GNV, o Grand Siena vai sair de linha sem deixar um sucessor direto. Principalmente, pela descrente procura por sedãs. Com os novos motores, o foco da Fiat será nos SUVs, começando pelo modelo derivado do Progetto 363, que estreia até setembro.
Até lá, mesmo com o Cronos em linha, o Grand Siena segue como uma das opções de entrada da fabricante italiana. A partir de R$ 58.590, o sedã oferece dois motores, o 1.0 flex e 1.4 EVO flex.
Volkswagen Gol
Esse pode ser difícil de acreditar, sobretudo por ainda ser um dos carros mais vendidos do Brasil após 41 anos no mercado — dos quais foi o líder por 27 anos consecutivos. Mas a Volkswagen pode decretar o fim da produção do Gol ainda no fim deste ano.
O hatch é feito sob a antiga plataforma PQ24 que será aposentada para focar na MQB, que dará origem ao Polo Track. A versão “esportivada” do Polo nada mais é do que a linha atual do modelo que continuará no catálogo da Volkswagen após a chegada da reestilização, que, por sua vez, deve acontecer até o começo de 2022.
A quinta geração do Gol está no mercado desde 2008 e passou por duas atualizações, em 2012 e em 2016. Se não for aposentado em breve, o Gol ganhará uma sobrevida até 2024, ano em que o controle de estabilidade se tornará item obrigatório nos carros nacionais.
Recentemente, Pablo di Si, CEO da marca na América do Sul, confirmou à Reuters que descongelou o investimento de R$ 7 bilhões na fábrica de Taubaté. Ano passado, noticiamos que a suspensão por causa da pandemia havia prejudicado o projeto A00, que daria origem à nova geração do Gol.
Uma vez que o Polo Track está confirmado, essa nova rodada de investimentos pode ter um novo Gol ou um substituto. Ainda que seja o carro mais vendido da história do Brasil, o Gol precisa se atualizar de forma que compense os R$ 60.260 iniciais pedidos pela marca.
Volkswagen Voyage
Derivado do Gol, o Voyage completa 40 anos de história em 2021. Quer dizer, sem contarmos o hiato entre 1996 e 2008, ano em que voltou junto à 5ª geração do hatch. Assim como o líder da Volkswagen, o Voyage sofre do mesmo problema do hatch: a desatualização.
Por ser tratar de um projeto antigo, sofre por não ter itens como controle de estabilidade e tração, além de oferecer apenas dois airbags. Desse modo, ou será descontinuado entre o final deste ano e 2022, ou sairá de linha em 2024, devido à obrigatoriedade do controle eletrônico de estabilidade.
Tal como o Gol, o Voyage garantiu anos de boas vendas. Desde a sua volta ao mercado, o sedã chegou perto de vender 100 mil unidades no ano. Em 2012, por exemplo, emplacou 96.392 unidades. Contudo, sentiu o peso da idade, a força dos novos concorrentes e a queda da vendas do segmento.
Mesmo assim, ainda é um dos líderes da categoria. Em 2019 e 2020, ficou na 24º e 22º posição, somando 32.055 e 24.114 unidades, respectivamente.
Volkswagen Fox
Se o Gol e o Voyage ainda tem a chance de ganhar uma sobrevida por mais dois anos, o Fox não terá a mesma sorte. O hatch já foi descontinuado na Argentina e, no Brasil, chegou à linha 2022 ultrapassando a barreira dos R$ 60 mil e deixando a versão de topo perto dos R$ 70 mil.
Ainda que represente um número significativo de vendas — mais de 20 mil unidades emplacadas em 2020 — e que seja o 1.6 flex mais barato, o Fox é um projeto de 2003. Derivado da plataforma PQ24 da antiga geração do Polo, o hatch de teto alto chegou a ter apelo “premium”.
A receita de aliar bom espaço interno e versatilidade garantiu ao Fox a marca de 143 mil unidades em vendidas em 12 meses. Nesse meio tempo, o veículo recebeu modificações, mas segue com a mesma plataforma de 18 anos atrás. Portanto, a Volkswagen deve aposentar a arquitetura entre o fim deste ano e o começo de 2022. E substituir o hatch mais alto pelo Polo Track, assim que o novo Polo estrear no Brasil.
Honda Fit
Amado pelo fiel público, o Fit está próximo do fim, pelo menos no Brasil. E nada tem a haver com a qualidade indiscutível do monovolume. O principal motivo é o custo para implementar a nova plataforma da nova geração, apresentada em 2019 no Salão de Tóquio. Por suas novas tecnologias, o novo Fit focará em mercados mais ricos em vez dos emergentes.
Em 18 anos de história no Brasil, o queridinho da Honda também é um dos que possui maior liquidez no mercado automotivo. Em três gerações, ele foi o primeiro da marca a adotar o câmbio automático do tipo CVT, um versátil sistema de rebatimento dos bancos traseiros e até ganhou a versão aventureira Twist, que não durou muito.
Durante anos, as vendas do Fit se mantiveram na faixa dos 30, 40 mil. Entretanto, recentemente o montante caiu para cerca de 20 mil unidades, como o registrado em 2019 (24.457). E em 2020, a Honda emplacou apenas 12.822 unidades do veículo.
Quem terá a missão de substituí-lo, dessa forma, é o novo City hatch, que chegará como um “hatchback compacto premium” para encarar Chevrolet Onix, Fiat Argo, Hyundai HB20, VW Polo e Toyota Yaris. Assim, o motor 1.5 aspirado de até 130 cv receberá aprimoramentos.
SUVs
Hyundai ix35
Por aqui, o modelo se chama ix35. Lá fora, foi chamado de Tucson. O SUV compacto que chegou aqui em 2010 nada mais é do que a segunda geração do Tucson. Curiosamente, o modelo convive hoje com a sua terceira geração, chamada por aqui de “New Tucson”.
Feito em Anápolis (GO), na fábrica do grupo Caoa, o ix35 seguiu por um caminho diferente do New Tucson e passou por leves alterações no design. Mas, de forma geral, segue com o mesmo projeto de 11 anos atrás.
As vendas também caíram. Das 10.254 unidades vendidas em 2017, o número foi caindo para 8.527 em 2018, 5.786 em 2019 até chegar aos 2.586 emplacamentos em 2020. Como seu sucessor já é vendido no Brasil, o ix35 deve chegar ao fim da linha sem deixar substituto.
Ford Edge
O SUV grande feito na plataforma do falecido Fusion, portanto, já saiu de linha na Europa. E deve sair do portfólio mundial até 2023. Ainda que ele siga importado até agora, o utilitário tem dois entraves no Brasil.
O primeiro é o dólar. Vendido na versão de topo ST, o Edge custa salgados R$ 351.950 e fica dependente da oscilação da moeda. Em segundo lugar, os novos Bronco Sport e o Mustang Mach-E devem roubar o seleto público-alvo do SUV do antigo Fusion. O Bronco ficará na casa dos R$250 mil, enquanto o “SUV do Mustang” deverá ficar acima dos R$ 400 mil.
Contudo, o Edge possui um ponto forte. Sob o capô, carrega um V6 birtubo EcoBoost de 2.7 litros que gera até 335 cv e 54,5 mkgf de torque.
Mitsubishi ASX
Na última semana, a Mitsubishi anunciou o encerramento das vendas do Pajero Full. Entretanto, a gama de jipes e SUVs terá outra baixa nos próximos meses. Estamos falando do veterano ASX.
Há 11 anos no mercado, o ASX recebeu leves retoques no visual, mas sem alterar a identidade. Na terceira reestilização, feita em 2020, foi rebatizado e ganhou o nome de Outlander Sport, já usado em outros países.
Atualmente, o ASX está disponível apenas na versão de entrada GLS, por R$ 128.990. O utilitário feito em Catalão, Goiás, utiliza o motor 2.0 flexível de quatro cilindros e até 170 cv de potência.
Mesmo mantido em linha como opção mais simples ao Outlander Sport, o ASX não alavancou as vendas da Mitsubishi. Embora o ano de 2020 tenha sido anormal para as montadoras, o modelo registrou apenas 1.160 emplacamentos. Em outros tempos, já chegou a bater a marca das 10 mil unidades no ano.
Como já há um outro SUV do próprio ASX, é certo que o modelo irá se despedir (em definitivo) do Brasil.
Kia Sportage e Sorento
Presente do jogador flamenguista Arrascaeta na Supercopa, o Sportage foi de protagonista a coadjuvante entre os SUVs médios. E pede por uma nova geração há algum tempo. O modelo chegou no Brasil em 1995 e, desde então, passou por quatro gerações, a última lançada em 2017. Completamente renovado e com linhas mais modernas, o Sportage empregou o motor 2.0 flex de até 167 cv e 20,2 kgfm com etanol.
Embora renovado, o SUV da Kia já passou por dias melhores. Inclusive, por alguns momentos, chegou a ficar entre os 10 SUVs mais vendidos no Brasil, com números próximos aos 10 mil emplacamentos no ano. Contudo, a Fenabrave vem registrando um decréscimo nas vendas. Foram 5.648 unidades em 2018, 4.082 em 2019 e só 1.625 em 2020.
O mesmo ocorre com o Sorento. Há mais de quatro anos o SUV de sete lugares não está entre os 50 carros mais vendidos no Brasil. Em 2016, última vez que apareceu no ranking, vendeu 797 unidades no ano.
A quarta geração estreou no ano passado e, até o momento, nada de vir para o Brasil. No caso do Sportage, a Kia apresentará sua quinta geração em junho e promete ousar no visual. Assim como o Sorento, o SUV menor também terá uma inédita versão híbrida plug-in recarregável.
Para virar o jogo, a marca sul-coreana pode trazer o SUV compacto Seltos. O modelo já está à venda na Argentina. Assim, o maior problema é o dólar. Contudo, o Seltos é feito no México e não paga taxa de importação, o que pode facilitar a sua vinda ao Brasil nos próximos meses.